Postado às 04h33 | 04 Nov 2020
Aproxima-se a eleição municipal de 2020.
Será a mais diferente da história política brasileira. Certamente, o isolamento social e as restrições no “ir e vir darão tempo ao eleitor para refletir sobre a responsabilidade do seu voto, no dia 15 de novembro.
Deixei a política, após exercer vários mandatos no Congresso Nacional. Sempre fiz campanha eleitoral, no estilo da “prestação de contas”.
Recomendo ao meu filho, que é atualmente candidato à reeleição de vereador em Natal, prestar contas dos mandatos exercidos, sobretudo a autoria de leis, que é a principal tarefa do legislador municipal. Ele assim vem fazendo.
Pede a reflexão para o “voto consciente”, após comparações.
Esta é uma forma de campanha diferente, sem agressões, com clareza e objetividade. Permite ao eleitor dispor de melhores informações para avaliar e escolher livremente o seu candidato.
Aqueles que disputam pela primeira vez "prestam contas", através de propostas viáveis, com os "pés no chão", sem mistificação.
O foco é o escolhido ter experiência do processo legislativo, com serviços prestados e conhecimento dos problemas coletivos, que o habilitem ao exercício eficiente do mandato
Cabe chamar a atenção para um fato específico, relacionado ao futuro da cidade de Natal.
A Câmara Municipal a ser eleita terá a decisiva tarefa de aprovar a revisão do Plano Diretor da capital, em 2021. Plano Diretor é uma lei municipal, obrigatória para cidades com mais de vinte mil habitantes. Segundo o artigo 182 da Constituição federal, estabelece a política de desenvolvimento e expansão urbana, tendo como objetivo o pleno desenvolvimento das funções sociais da comunidade e a garantia do bem-estar de seus habitantes.
Alguns chamam a “Constituição da cidade”.
Para debater e aprovar um Plano Diretor impõe-se o aperfeiçoamento da representação popular. Isto não significa a escolha de pessoas superiores, distantes da realidade, comprometidas com teorias abstratas. Exige, apenas, a indispensável vocação pública de quem receba o voto. O
mandato não é emprego, ou improvisação. É uma missão.
Em linguagem figurativa, de que adianta alguém tentar pilotar “Boeing”, sem aptidão, por mais boa vontade que tenha?
Na minha história política, sempre tentei qualificar-me para melhor exercer o mandato.
Comecei na política no início dos anos 60, nas lutas estudantis.
Lembro que, à época, em grupos de colegas militantes da Ação Católica, líamos e debatíamos as obras do padre Lebret, Jacques Maritain, Alceu de Amoroso Lima, Leon Blois, André Piettre e outros. Diante do dilema capitalismo vs comunismo, todos esses autores defendiam princípios políticos, econômicos e s sociais, com base na doutrina social cristã.
Ainda hoje mantenho-me fiel a essas diretrizes, que buscam a justiça social.
Propus ao meu filho segui-las na sua militância política, em Natal, agregando os avanços da modernidade. Recomendei a ele, que não deixasse de sonhar com um mundo melhor.
Foram os sonhos, que inspiraram JK, Joaquim Nabuco, José do Patrocínio, Martin Luther King. No RN, Aluízio Alves sonhou com a energia de Paulo Afonso. Cortez Pereira com o maior projeto de colonização do país (Serra do Mel) e a produção de camarão, que ainda hoje coloca o estado como o maior produtor nacional. D. Eugenio Sales, ao criar o Movimento de Natal, referência apostólica da Igreja, na América Latina.
O mundo é movido por sonhos, que abrem espaços para o diálogo.
Sócrates, pai da filosofia, não sabia ler nem escrever, estava apenas conectado com a condição humana e inventou o diálogo.
Nada melhor para estimular o diálogo e construir sonhos, do que a “urna eleitoral”, na qual a cidadania decide o seu próprio futuro.
O voto simboliza o tijolo, que constrói o edifício da Democracia. O operário é o eleitor, de quem depende a solidez da construção.
Não há política em regimes autoritários, salvo para “compadrios indecentes”. A sobrevivência democrática está condicionada à política.
Nas reflexões sobre o próximo dia 15 de novembro, sobretudo diante dos trágicos desafios da catástrofe epidêmica, vale lembrar Bertolt Brecht, quando disse que “O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos”.
Para afastar esse dilema do analfabetismo político, a regra será nunca se omitir. Comparecer às urnas e votar conscientemente.
O mesmo Brecht, também advertiu, que a omissão da política é “tudo o que os malfeitores da vida pública mais querem”.
(Artigo publicado hoje, 04, no jornal "Tribuna do Norte", Natal/RN)