Postado às 17h02 | 06 Mar 2022
João Maria de Lima
Professor
Muitos seriam os motivos para registrar a história de vida de Militão Chaves.
Ele foi um homem de visão muito à frente de seu tempo, atuando em diversas áreas.
Era a combinação do altruísta com a figura de comerciante muito respeitado. No próximo dia 10 de março, completam-se 111 anos do nascimento desse homem dedicado à família e à filantropia.
Militão ensaiou escrever sua autobiografia.
Certamente, não o fez em virtude das muitas tarefas que passou a exercer assim que deixou sua cidade natal, Pau dos Ferros, ainda menor de idade, para gerenciar a farmácia do irmão Quinho Chaves, em Santana do Matos.
Ao lado do outro irmão, Raimundo Chaves, Militão formou uma dupla arrojada.
Ambos não se conformaram com aquilo que o destino parecia lhes reservar e aportaram em Natal, em 1932, cheios de sonhos.
Apaixonaram-se definitiva e perdidamente pela cidade, onde construíram uma história de sucesso.
Natal retribuiu dando a duas artérias paralelas, no Bairro de Candelária, os seus nomes, imortalizando essa relação no coração da cidade, de modo que as ruas Militão Chaves e Raimundo Chaves estão lado a lado, assim como os irmãos trilharam a vida nos caminhos do comércio.
Henri Bergson, filósofo e Nobel de 1927, dizia que cada homem carrega dentro de si um universo tão múltiplo quanto as estrelas do céu.
São as experiências e as sensações, tudo quanto cada um sente desde o nascimento até a morte.
Esse “universo” se expande em função de sua harmonia e convergência com o sentido universal da vida.
É o universo deste homem plural que homenageio aqui.
Afinal, uma cidade não deve ser considerada, apenas, pelo seu aspecto físico, místico ou emocional; mas, sobretudo, pela vida realizadora de seus filhos.
Sem eles, ela não vive, mesmo que seja bela e encantadora.
O povo é que forma uma nação. Como as palavras voam, e os escritos permanecem, de acordo com a máxima latina “Verba volant, scripta manent”, fazia-se necessário escrever a história de Militão. Fi-lo com muita honra, apesar de acreditar que não estava à altura da missão que me foi dada pela família.
Ainda este ano, “Antes que seja tarde, a biografia de Militão Chaves, será lançada, provavelmente na data que marca o aniversário de nascimento de Dona Elza, sua grande companheira de vida.
Será apresentada a história de um homem que não descuidou da família enquanto foi empreendedor visionário e comerciante ousado, e que nos deixou um legado de amor ao próximo.
Militão participou da fundação da Sociedade Professor Heitor Carrilho, idealizada pelo médico Severino Lopes, ajudou a criar a Clínica Pedagógica Professor Heitor Carrilho, para desenvolver um trabalho com crianças excepcionais, e estava entre os sócios-fundadores da APAE, da qual foi grande benfeitor.
Rotariano dedicado, chegou a ser presidente do Rotary Club de Natal, onde foi um dos incentivadores da fundação da Escola Rotary.
Entre tantos outros, trago à baila um aspecto que se destaca na vida de Militão Chaves: o talento com as palavras. Essa habilidade torna-se muito relevante pela época em que ele viveu (sem recursos tecnológicos, com poucos meios de comunicação), sem jamais ter terminado o ensino básico, muito menos frequentado os bancos de uma universidade.
Ele – além de tudo – tinha noções de medicina, filosofia, artes, ciências e cultura geral.
Nas brumas do tempo, muito do que ele escreveu se perdeu. Essa penúria de registros só não é maior graças aos Boletins Semanais do Rotary Club Natal, aos quais se teve acesso com o apoio do rotariano Pedro Avelino Neto, que prestou relevante contribuição nesse sentido.
Há 55 anos, no dia 09 de março de 1967, em alusão aos 31 anos do Rotary Club de Natal, conclamado a discursar, Militão expressou um desejo:
“Eis porque, registrando tão grata efeméride, aureolada de episódios dignificantes no curso desse longo período, formulamos votos ardentes para que os postulados do Rotary jamais sejam deturpados e que a lâmpada votiva da boa vontade entre os homens dissipe a treva das dissenções e das invejas, laureando, com o archete da bondade e da longevidade, os atributos edificantes que devem unir os homens neste Vale de Lágrimas”.
Militão Chaves viveu a máxima de Ludovico, grande poeta épico italiano, o qual dizia que o homem deveria ter saber e bondade, porém que a bondade fosse mais importante, pois, sem ela, pouco valeria a primeira.