Postado às 05h17 | 06 Abr 2020
Em meio a divergências com seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, sobre a condução da crise do coronavírus, Jair Bolsonaro tem adotado prática já conhecida por outros membros da Esplanada.
Neste domingo, sem citar nomes, disse que integrantes de seu governo "viraram estrelas" e que a hora deles vai chegar. Em uma ameaça velada de demiti-los, disse não ter "medo de usar a caneta".
Assim como Mandetta, Paulo Guedes (Economia) e Sergio Moro (Justiça) já foram alvo do método de fritura pública pelo presidente. Bolsonaro costuma desautorizar e interferir em decisões de ministros que, devido às cirscunstâncias, não pode demitir.
O método também costuma ser adotado pelo presidente pouco antes de demitir um ministro.
Abaixo, veja situações em que Bolsonaro promoveu ataques públicos a seus auxiliares.
Humildade
Em entrevista na quinta-feira (2), Bolsonaro deu uma bronca pública no ministro. Ele disse que está faltando humildade e que ele está extrapolando. O presidente ressaltou que não pretende demiti-lo durante a crise de saúde, mas acrescentou que nenhum integrante de sua equipe é "indemissível".Cloroquina
Sem convidar o ministro, o presidente se reuniu com um grupo de médicos para discutir sobre o uso da cloroquina no tratamento de pacientes graves de coronavírus. No encontro, segundo relatos, ele fez questão de dizer que tem uma opinião diferente da de Mandetta. O ministro tem pedido cautela quanto ao medicamento, já que não há comprovação científica da sua eficácia, embora alguns estudos apontem indícios nesse sentido.
Isolamento
Desde o final do mês passado, o presidente tem se posicionado contra medidas para garantir o isolamento social, enquanto o ministro tem feito uma defesa da iniciativa. No último pronunciamento que fez em cadeia nacional, Bolsonaro consultou pelo menos cinco ministros, mas, segundo relatos, não procurou Mandetta.
Além disso, Bolsonaro contrariou recomendaçao da Saúde e participou de manifestações, circulou pelo comércio de Brasília e cumprimentou apoiadores em frente ao Alvorada.
SERGIO MORO (JUSTIÇA)
Ministério da Segurança Pública
Bolsonaro afirmou que poderia recriar a pasta da Segurança Pública, que hoje integra o Ministério da Justiça. Com isso, a área sairia da alçada de Moro. O ministro, contudo, tem usado como principal vitrine da sua gestão a redução de homicídios, que foi iniciada no governo de Michel Temer (MDB). Após críticas, Bolsonaro desistiu da ideia.
Pacote anticrime
Na sanção do pacote anticrime, proposta preparada pelo ministro, Bolsonaro adotou poucas sugestões de Moro. Das 38 indicações de vetos que constavam em parecer do Ministério da Justiça, quatro foram atendidas por Bolsonaro de forma integral e uma de forma parcial. Meses antes, o presidente havia dito que o pacote, considerado prioridade para Moro, não era visto com urgência pelo governo.
Juiz das garantias
Aprovada junto com o pacote anticrime, a medida, que prevê a divisão de processos penais entre dois juízes, foi criticada por Moro. Bolsonaro, contudo, sancionou o projeto e não vetou o instituto.
O juiz das garantias, conforme a lei aprovada, atuará na fase investigativa e expedirá eventuais mandados de prisão provisória, de busca e apreensão e outras medidas cautelares relativas a uma apuração em andamento. A partir do recebimento da denúncia, o caso passa para outro magistrado, o da instrução, que será responsável pela sentença. Sergio Moro, ex-juiz da Lava Jato e hoje ministro da Justiça, é contra a criação dos juízes das garantias. Mateus Bonomi/Folhapress
STF
Bolsonaro havia afirmado que prometeu a Moro uma vaga no STF ao convidá-lo para assumir o ministério da Justiça. Depois, voltou atrás e afirmou que não houve combinado. O presidente também tem afirmado que pretende indicar alguém "terrivelmente evangélico" para uma das duas vagas que devem ser abertas até 2022 e deu a entender que pode nomear o atual ministro da Advocacia-Geral da União, André Luiz Mendonça.
Conselho
No início do governo, Bolsonaro obrigou Moro a revogar a nomeação da especialista em segurança pública Ilona Szabó como membro suplente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Além disso, o presidente também interveio em nomeações na Polícia Federal.
CPMF
O Ministério da Economia trabalhava na criação de um imposto nos moldes da CPMF. A ideia era que saques e depósitos em dinheiro fossem taxados com uma alíquota inicial de 0,4%. Bolsonaro se irritou com proposta, desautorizou o ministro e o obrigou a demitir o então secretário de Receita Federal, Marcos Cintra.
Reforma administrativa
O ministro preparou uma reforma administrativa para ser entregue no ano passado. Em entrevista, Guedes chegou a dizer que ela seria enviada dali a pouco ao Congresso. Contrário à iniciativa, Bolsonaro não a enviou, não deu prazo para mandá-la e ainda retirou do projeto impedimento a servidores públicos de terem filiação político-partidária.
Doméstica na Disney
Bolsonaro fez Guedes pedir desculpas após o ministro dizer que empregadas domésticas estavam indo para a Disney com o dólar baixo. Sobre assuntos econômicos, o presidente passou, ao longo do mandato, a buscar conselhos com outros ministros, como Tarcísio Freitas (Infraestrutura).
Áudios vazados
Na tentativa de se afastar do esquema de candidaturas laranja do PSL, o presidente começou a queimar o ministro, que foi presidente nacional da sigla na campanha eleitoral. Bolsonaro chegou a dizer, por exemplo, que não havia conversado com o ministro quando estava internado em São Paulo. A versão foi desmentida por Bebbiano, que divulgou os áudios dos diálogos.
Bebianno, que foi demitido pouco depois do episídio, morreu no início de maio, após sofrer um infarto. Até hoje Bolsonaro não falou sobre sua morte.
O general foi retirado do cargo por pressão do núcleo ideológico do governo, que queria ter maior controle sobre a comunicação oficial. Para forçar a sua retirada, a família do presidente começou a estimular ataques ao militar nas redes sociais. Foi criada até mesmo uma mensagem falsa do general na qual ele xingava o presidente.