Postado às 06h10 | 21 Abr 2020
(Das Agências Internacionais) – O petróleo foi cotado pela primeira vez a um valor negativo nesta segunda-feira. A marca histórica foi atingida noscontratos para maio do petróleo WTI (West Texas Intermediate), que é extraído na região do Golfo do México e comercializado na Bolsa de Nova York. Exatamente por isso, a cotação do óleo levou para baixo também o desempenho geral de Wall Street.
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O petróleo WTI para maio havia fechado a sexta-feira (17) cotado a US$ 18,27 no mercado futuro. Nesta segunda-feira, o preço do barril chegou a US$ 37,63 negativo, uma desvalorização de US$ 55,90. Resultado de uma combinação entre os efeitos da pandemia de coronavírus e o excesso de petróleo disponível no mundo. O E-Investidor elaborou uma série de perguntas e respostas para explicar esse dia histórico do petróleo e seus reflexos. Confira:
A crise desencadeada pelo coronavírus reduziu a demanda mundial de petróleo – em torno de 25% a 30%. A produção global, contudo, foi inicialmente acelerada no fim de março por Arábia Saudita e Rússia. No dia 12 abril, os dois países entraram em um acordo para cortar a produção em 10 milhões de barris por dia, ou 10% da produção mundial, a partir de maio. O resultado disso é: excesso de petróleo e esgotamento gradual da capacidade de armazená-lo.
À essa relação distorcida entre oferta e demanda soma-se o vencimento, para esta terça-feira (20), dos contratos de maio do WTI no mercado futuro. Os negociadores pagam preços variados, dependendo do tipo de petróleo bruto, de onde vem e a data em que ele deve ser entregue. Normalmente essas diferenças são pequenas e passam despercebidas fora do mercado de energia. Sem ter onde estocar o petróleo comprado, muitos investidores preferiram pagar para devolver os barris comprados, o que levou ao preço negativo.
“É claro que esse momento é histórico e não poderia ilustrar melhor a utopia de preços em que o mercado está desde março, quando toda a escala do problema de excesso de oferta começou a se tornar evidente, mas o mercado permaneceu inconsciente”, escreveu Louise Dickson, do Rystad Energy, em uma nota reproduzida pelo Washington Post. “Desde então, os traders enviaram preços cada vez mais altos para especulações, esperanças, tweets e desejos. Mas agora a realidade está afundando.”
É improvável que isso aconteça. Até lá, o corte combinado pela Opep+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) deve ter efeitos concretos (mesmo que limitados) sobre os estoques. O preço também será afetado pela evolução do combate ao coronavírus.
“Com sinais de possível relaxamento das medidas de contenção da Covid-19, o vencimento do próximo mês não deve ver pressão de vendas tão intensa”, afirmou Ann-Louise Hittle, da consultoria Wood Mackenzie, ao Broadcast, plataforma de informação financeira do Estadão.
Os preços do petróleo a ser entregue em junho também sofreram queda nesta segunda-feira, porém em proporções mais reais: redução de 16% para cerca de US$ 21 por barril. O volume de comercialização é intenso, cinco vezes mais que do petróleo com vencimento para maio.
O petróleo WTI é comumente entregue em Cushing, Oklahoma. Segundo a Agência de Informação Energética dos Estados Unidos, as reservas de petróleo no país subiram 19,25 milhões de barris na semana passada. “A demanda é tão menor que a oferta que as reservas podem ter atingido 70% a 80% da capacidade”, disse à AFP Jasper Lawler, do London Capital Group.
A Genscape, empresa de inteligência de mercado, informou que os estoques devem atingir seu limite máximo em maio. A consultoria energética Rystad Energy fez uma previsão mais pessimista à Agência EFE: fim de abril.
No início de abril, a Opep costurou um acordo para reduzir em 9,7 milhões de barris por dia a produção de petróleo. O corte passa a valer em 1º de maio, mas há dúvidas no mercado quanto à eficácia da medida. Analistas preveem que o consumo de petróleo cairá para um terço disso em abril. “Embora a Opep tenha aceitado uma redução sem precedentes na produção, o mercado está inundado de petróleo”, constatou o banco ANZ em nota, segundo a AFP, indicando que o caminho para o equilíbrio entre oferta e demanda é extenso.
“O mercado está iniciando o doloroso processo de equilibrar a oferta com uma perspectiva de demanda menor de cerca de 70 milhões de barris diários [barris por dia]”, escreveu Reid Morrison, analista de energia da PwC. “A situação econômica está travada sem uma verdadeira clareza sobre o que está por vir, então não há razão para esperar que a demanda aumente no curto prazo”.
O Brent é o petróleo extraído no mar do Norte e no Oriente Médio, comercializado na Bolsa de Londres. Nesta segunda-feira (20), o preço foi menos afetado. Caiu cerca de 6% e chegou a US$ 26. O principal motor de redução do barril de Brent é a redução de demanda da China.
Não diretamente, pois as ações da Petrobras têm como referência o petróleo Brent. Por outro lado, a volatilidade no preço do óleo WTI “tira o ímpeto dos mercados globais e isso repercute de alguma forma no Brasil”, explicou ao E-Investidor o analista Ilan Bertman, da Ativa Investimentos.
A guerra do petróleo, contudo, deve seguir tendo efeito sobre a empresa brasileira. “A Petrobras já foi obrigada a fazer doze reduções de preço neste ano para não perder clientes internacionais”, completa o analista.