Postado às 07h09 | 07 Jan 2021
Mario Carneiro, diretor editorial do jornal português "Sapo"
Olho para as imagens que chegam dos EUA chocado mas não absolutamente surpreendido.
Vi isto em Bucareste na queda de Ceausescu em 1989. Vi isto em Bagdad na queda de Saddam em 2003. Agora vejo isto em Washington e o que mais assusta são as diferenças!
A Roménia de final de 1989 e o Iraque de 2003 eram estados sem Lei que se estavam a libertar de ditadores.
Os EUA são o Estado do primado da Lei e vivem o que devia ser uma pacífica transição democrática.
Alguém aceitar que o que está a acontecer PODE acontecer é, em si mesmo, imensamente preocupante. A profanação de lugares que simbolicamente “sacralizam” o poder que os Cidadãos confiam ao Estado não pode nunca ser banalizada sob pena de se dar guarida à barbárie.
Depois de ter acontecido, ficar sem consequências seria o pior legado para gerações vindouras: alguma coisa tem de diferenciar aquela Roménia e aquele Iraque destes EUA!
Esta turba pode não ter tido um instigador mas teve claramente um provocador: Donald Trump. Comparar Trump a Nero seria dar-lhe dignidade imperial: a História há-de o recordar antes como uma espécie de diva decrépita dos filmes mudos que se recusou a aceitar a chegada do cinema sonoro.
Mas é bom que a História não o esqueça para que não morra a Esperança de que ela não se repita.