Postado às 15h47 | 26 Mar 2021
"Dissemos da importância de que esse comitê nacional tenha a presença de Estados e municípios. Não é razoável sem a presença de Estados e municípios", afirmou o governador do Piauí e coordenador do Fórum de Governadores para a crise de covid-19, Wellington Dias (PT). O comitê anunciado por Bolsonaro fará a primeira reunião na próxima segunda-feira, 29.
Apesar da insatisfação, os governadores concordaram em manter conversas periódicas com Pacheco para definir as demandas. "Houve muita crítica ao comitê criado e ao comportamento do presidente de enfrentamento aos governadores e alimentação de sua base política para enfrentar os governadores. Isso prejudicou o trabalho imensamente até agora", disse o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB).
Conforme o Estadão/Broadcast apurou, Pacheco listou erros na condução da crise, que já matou mais de 300 mil pessoas, mas evitou responsabilizar nominalmente o presidente da República pela falta de comando. Após a reunião, o senador tentou minimizar a polêmica e afirmou que o comitê é federal. A intenção, de acordo com ele, é promover uma integração entre os Poderes para conter o avanço da covid-19 e priorizar as "convergências", colocando a vacinação como a principal meta.
O isolamento social, medida apontada como necessária por especialistas independentemente da imunização da população, é um dos principais temas que divide Bolsonaro e gestores estaduais. "O único caminho que nós temos é de união, e essa união será um grande exemplo para sociedade brasileira, que nós estamos buscando ter a solução para o problema nacional que nós vivemos hoje", disse Pacheco em coletiva de imprensa.
Crítico de Bolsonaro e possível adversário do chefe do Planalto nas eleições presidenciais de 2022, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), não participou da reunião com Pacheco. Ele escalou o vice-governador do Estado, Rodrigo Garcia (DEM), para a teleconferência. No mesmo horário, o tucano dava entrevista à imprensa para anunciar o desenvolvimento de uma vacina produzida integralmente em São Paulo pelo Instituto Butantã. Assim que a iniciativa de criar o comitê foi anunciada, Doria havia definido a instância como "comitê de adulação" e avisou que não tinha intenção de aderir ao grupo.
Apesar do anúncio do Butantan, o governo federal aposta em outra vacina 100% brasileira a partir do segundo semestre, fabricada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Governadores também pediram uma distribuição igualitária de doses das vacinas contra covid-19 para que todos os Estados realizem a imunização conforme as mesmas faixas etárias ao mesmo tempo. A falta de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e medicamentos para tratar pacientes também foi cobrada na reunião.
Durante a conversa com Pacheco, governadores reagiram à estratégia de Bolsonaro de responsabilizar os Estados pelo descontrole da pandemia ao apresentar dados gerais sobre transferências de recursos federais. Na avaliação dos presentes, a inclusão de prefeitos e governadores no comitê poderia servir como um gesto de aproximação, o que não ocorreu. "Se o presidente quer estabelecer um novo comportamento com relação à pandemia, seria um gesto concreto de acolhimento e de compromisso com a mudança de postura", afirmou Renato Casagrande.
Bolsonaro assinou o decreto que formaliza o Comitê de Coordenação Nacional para Enfrentamento da Pandemia da Covid-19 na quinta-feira, 25. O órgão será coordenado pelo próprio presidente da República e, além de Pacheco, terá como integrantes o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL) e um indicado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O Ministério da Saúde exercerá a secretaria-executiva do grupo. Estados e municípios ficaram de fora.
O formato foi criticado até por quem esteve na reunião de chefe dos poderes, na quarta-feira, 24, quando o grupo foi anunciado. "Esse comitê, instituído dessa maneira, excluindo Estados e Municípios brasileiros, é a negação do SUS e mais uma ação na direção do negacionismo. Certamente, não é o melhor caminho", afirmou o governador de Alagoas, Renan Filho (MDB), que estava no encontro realizado no Palácio da Alvorada.
Além dos Estados, a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) encaminhou um ofício aos presidentes da Câmara e do Senado solicitando participação no grupo. "Ninguém tem direito de fazer politicagem ou campanha eleitoral sobre 300 mil mortos. Eu esperava que o senhor presidente da República entendesse isso. Esse decreto é a prova que ele não entendeu e nem vai entender. Ele não sabe o que é coordenação nacional", afirmou o governador Flávio Dino (PCdoB), durante a conferência com Pacheco.