Postado às 17h40 | 23 Fev 2024
Ney Lopes
Em Recife, vivi como repórter um drama, que poderia ter me custado à vida.
No dia 25 de julho de 1966, a pauta do Jornal do Commercio atribuiu-me a cobertura do retorno ao Brasil do ministro da Guerra Costa e Silva, então candidato a presidente da República, procedente da Europa.
Era manhã de uma segunda-feira e muitas pessoas o aguardavam no saguão do aeroporto Guararapes.
Chovia e me desloquei de ônibus para o aeroporto.
Ao chegar notei grande alvoroço.
Acabara de acontecer um atentado terrorista, justamente para onde me dirigia para ficar ao lado das autoridades, como repórter credenciado.
Uma bomba explodiu em pleno Aeroporto, tirando a vida de duas pessoas e ferindo outras 14.
O episódio segue sem elucidação, com autores não identificados, até hoje.
Há versões de que tudo não passou de um plano orquestrado por grupo de militares dissidentes da candidatura de Costa e Silva à Presidência.
O objetivo seria criar um clima de medo e pânico, visando responsabilizar a Ação Popular (organização de esquerda que atuava no combate à ditadura), pelo suposto atentado.
Nada foi provado.
O secretário do governo de Pernambuco jornalista Edson Régis de Carvalho, com quem estivera dias antes, morreu no local, com o abdômen dilacerado.
O vice-almirante reformado Nelson Gomes Fernandes teve o crânio esfacelado pela explosão.
Outras dezenas de vítimas gravemente feridas, entre elas, uma criança de 6 anos de idade.
Poderia estar ao lado deles.
Diante da cena trágica, imaginei que nascera novamente.
Deus me protegeu e a chuva que caía atrasou o ônibus, no qual me desloquei.
A única glória teria sido morrer como repórter, atividade que tanto me encantava.
Ainda no período de permanência no Recife, outro episódio evidencia a persistência de um repórter na busca do “furo”.
O famoso economista Celso Furtado dirigia a SUDENE e se negava a falar à imprensa.
Fiquei na porta do seu gabinete (sem almoçar, nem jantar) e quando ele saiu, à noite, encostei-o num corredor e, de gravador em punho, colhi uma longa entrevista exclusiva.
Correspondentes de órgãos de imprensa nacionais enviaram o texto para as suas sucursais.
Ainda morando em Recife, atendi apelo que Chaparro me fizera, ainda diretor da ORDEM em Natal.
Passaria pelo aeroporto Guararapes o então senador JK.
A minha missão era conseguir declarações exclusivas, antes que ele chegasse a capital potiguar.
Quando o ex-presidente tomava um cafezinho no “hall” obtive a entrevista gravada.
Perguntei-lhe sobre candidatura à Presidência.
Respondeu-me o que já afirmara antes: “não serei candidato. Já sou um Presidente em férias".
Pela falta da Internet e do what-app, peguei um avião comercial e antes que JK chegasse a Natal em avião particular, já colocava as suas declarações na Rádio Rural e em seguida a ORDEM publicava.
Era mais um “furo” consumado!