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Repórter que sempre fui: "prêmio Esso e João Goulart (IV)"

Postado às 15h49 | 20 Fev 2024

Ney Lopes

Por volta de 1962 chegou a Natal um jornalista português, perseguido pelo salazarismo, que dominava Portugal.

Era Manoel Carlos Chaparro.

Grande profissional e figura humana inigualável.

Ele e o conterrâneo Calazans Fernandes, com quem trabalhei na sucursal da FOLHA e Jornal do Commércio, em Recife, foram os meus professores.

Chaparro assumiu a chefia de redação da ORDEM e tinha como proposta estimular quem tivessem vocação de repórter.

Recebi dele muitas missões e retribui com “furos” e reconhecimento até nacional.

É o caso do prêmio Esso Regional, um galardão para o jornalismo, que fui honrado aos 17 anos de idade, quando escrevi a série de reportagens  “a cidade de Natal por dentro”.

Até hoje, o único jornalista do RN, que publicou os textos em jornal potiguar e ganhou o prêmio Esso.

Outros valorosos conterrâneos foram premiados, porém com as matérias publicadas em jornais fora do RN.

Durante mais de 10 semanas, andei até na madrugada, visitei alagadiços, favelas e comunidades.

Colhi várias histórias de vida, denúncias, dramas humanos, sugestões, contrastes.

Na edição de 21 de abril de 1962, duas fotos ilustraram o texto dessa série de reportagens.

Uma de residência de luxo no Tirol; outra, de mocambos em Mãe Luiza.

Na legenda escrevi:

Tanto nos prédios de luxo, quanto nos mocambos, moram pessoas humanas, com iguais direitos à felicidade e a uma vida digna. Vivem crianças com ilusões e sonhos. Contrastes duros que custa aceitar em pleno século XX”.

Na Assembleia Legislativa, um deputado denunciou-me como agitador.

D. Eugenio, anos depois, com sorriso na face contou-me a denúncia que recebera e relegara totalmente.

Quando chamado para dá explicações durante a Revolução de 1964, por ser à época militante do MDB, que combatia nas ruas o movimento revolucionário, constava nos arquivos militares que era “comunista”, por conta dessa série de reportagem.

Recebi o prêmio Esso do Sr. Mário Torres de Melo, gerente de relações públicas da Esso para o Brasil, além das presenças do jornalista Luiz Lobo, diretor da nossa Faculdade de Jornalismo; o velho amigo (já falecido) Everaldo Gomes, representando o Governador do Estado, Aluízio Alves; Monsenhor Alair Vilar; Dr. Otto de Brito Guerra e alunos da Faculdade de jornalismo Eloy de Souza.

Outro fato histórico foi a última visita do presidente João Goulart ao nordeste em 1963, meses antes da sua deposição.

Ele foi a Santa Cruz inaugurar a luz de Paulo Afonso, luta do então governador Aluízio Alves. 

Munido de gravador portátil, burlei a segurança da Aeronáutica na chegada presidencial e obtive declarações com exclusividade do Presidente sobre o momento nacional.

Quase fui preso pela segurança do governo.

Lembro (e a foto divulgada mostra isso), que chovia muito na pista de Parnamirim e atrás do Presidente João Goulart vinha o então General Castelo Branco, chefe do estado maior da Presidência, segurando o guarda-chuva presidencial. Coisas do destino!

Pouco tempo depois, Castelo Branco assumiria a presidência da República.

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