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Repórter que sempre fui: Calazans Fernandes e a minha cassação (VIII)

Postado às 04h47 | 27 Fev 2024

Ney Lopes

Em 1965 deixei Natal para trabalhar em Recife com o conterrâneo de Marcelino Viera Calazans Fernandes, na sucursal nordeste da Folha de São Paulo. Simultaneamente, vinculei-me ao Jornal do Commércio do Recife e depois Diário de Pernambuco. Com “cara de poucos amigos”, Calazans na verdade era muito humano, dizia que desejava colocar o jornalismo a serviço de uma melhoria de vida do povo nordestino.

Calazans definia o jornalismo como a busca do “furo”. Primava pela clareza das primeiras linhas do texto para o leitor interessar-se. Acertamos instalar um jornal em Natal. O nome seria “O repórter”. Ficou em sonho. Faltou dinheiro.

Calazans foi grande amigo de Jaime Dantas, também conterrâneo e jornalista de projeção internacional, que o chamava pelo apelido de "Chico da comadre Toinha". Foram seminaristas.

Conta Roberto Dantas, filho de Jaime, que os “dois” sempre bolavam algo e pensavam em fazer matérias sobre o RN. Quando trabalhavam na revista americana “Time” conseguiram doações para a banda de música da cidade de Marcelino Vieira. Como prêmio, a banda compôs os dobrados Calazans Fernandes e Jayme Dantas.

Certa vez, Jaime e Calazans levaram para o Rio de Janeiro, Ascenso Ferreira. Na casa de Jaime, o poeta sertanejo “excedeu-se” na galinha caipira ao molho pardo”. Terminou chorando e declamando os seus poemas. Os dois fizeram matérias inéditas sobre Ascenso, publicadas na mídia nacional e internacional.

Ao assumir a secretaria de educação do RN, no governo Aluízio Alves (1962), Calazans juntou-se a Jaime, que era o correspondente da revista “Time” no Brasil e conseguiram impressionar o presidente John Kennedy para liberar milhões de dólares (Aliança para o Progresso”), destinados a um mega programa de alfabetização em massa, a base do método do professor Paulo Freire, em Angicos, RN.

Conto a seguir um episódio, que ainda hoje me revolta. Em 1974 candidatei-me a deputado federal. Calazans dirigia a Editora Abril em São Paulo. Pediu-me uma foto colorida. Tirei-a com a fotografa Lolita, esposa de Joanilo Paula Rego, de saudosa memória, que me presenteou. Na campanha recebi, como doação, através de Calazans, cartazes coloridos, que fizeram sucesso, pela qualidade do papel e impressão. Nem o frete paguei.

A inveja e a maldade caíram impiedosamente sobre mim. A cúpula política local, que desejava impedir meu acesso à política, acusou-me de usar recursos do Estado para fazer uma propaganda milionária. Todos juntos, pediram a minha cabeça à Revolução, que não concedia o direito de defesa. A imprensa “marrom” do RN propagou essa acusação e distribuiu notícias para jornais do sul. Essa foi uma das causas alegadas na cassação do meu mandato, em 1976.

Deus e o povo me protegeram, por ser inocente e nunca, até hoje, ter respondido a qualquer tipo de processo. Voltei à política e considero-me vitorioso, apesar das perseguições que sofri.

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