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Querem colocar no presidente o carimbo de culpado, diz aliado de Bolsonaro na CPI da Covid

Postado às 05h50 | 11 Mai 2021

O senador Marcos Rogério (DEM-RO), um dos aliados do governo federal na CPI da Covid, disse à Folha que os parlamentares independentes e de oposição fazem um pré-julgamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e que o colegiado virou um "tribunal da Inquisição".

"Querem colocar no presidente o carimbo de culpado."

Para o senador, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello não deve temer a ida à comissão e por isso comparecerá na próxima semana.

O senador defende ainda que governadores e prefeitos sejam chamados a falar na CPI para explicar gastos de verbas federais na pandemia. Rogério é um dos quatro apoiadores de Bolsonaro na comissão, formada por 11 membros.

Qual a avaliação do sr. sobre os depoimentos da semana passada? Os depoimentos iniciais foram necessários. Você não tem como iniciar o trabalho de uma CPI sem ouvir aqueles que estiveram à frente do Ministério da Saúde desde o primeiro momento [da pandemia] até o atual.

Tirando as avaliações de ordem política, do ponto de vista da apuração de fatos, não há nada de novo a acrescentar a um processo de investigação.

O ex-ministro Luiz Henrique Mandetta apresentou uma carta enviada ao presidente na qual dizia que a pandemia pioraria caso não fossem tomadas algumas medidas. A oposição avalia que o documento é uma prova de omissão por parte do presidente. Concorda? Tenho muito carinho pelo Mandetta e não quero fazer juízo de valor sobre esse novo comportamento dele. Agora, se o ministério deixou de fazer alguma coisa, o gestor da pasta era ele.

A minha visão é que o governo vem fazendo aquilo que deve ser feito. Quem conseguiu dar uma resposta para os estados e municípios com relação à falta de respiradores, leitos de UTI, foi o governo federal, o Ministério da Saúde, sobretudo na gestão do Pazuello.

Não acho que qualquer carta possa desabonar a conduta do presidente ou do governo federal. O governo agiu com muita agilidade para garantir suprimentos de equipamentos.

Com relação à vacina do mesmo jeito. Qual estado ou município conseguiu comprar vacina? O consórcio [de governadores do Nordeste] conseguiu? Não. Comprar vacina para valer ninguém comprou.

A única vacina disponível foi adquirida pelo governo federal, à exceção de São Paulo, do Butantan, com relação àquela parte que toca o estado de São Paulo.

Os oposicionistas vêm dizendo que esses primeiros depoimentos apontaram para o que eles chamam de "ministério paralelo", um centro de aconselhamento para questões da pandemia que passa longe do Ministério da Saúde. Qual a sua visão sobre isso, em especial sobre a participação do Carlos Bolsonaro nesse gabinete paralelo? O papel da oposição é fazer oposição. O que vejo na CPI é uma tentativa reiterada de construir ou reafirmar uma narrativa pronta.

Os membros da CPI de oposição já tem uma lista de pré-julgamentos. É só observar os pronunciamentos no dia de instalação da CPI e como se pronunciaram aqueles que fazem parte da oposição.

Vai chegar o momento em que você vai ter de colocar essas provas na mesa e fazer a valoração probatória, mas este não é o momento. Este é o momento de buscar, checar, conferir e, no final, julgar. Mas agora estão passando os carros na frente dos bois.

Com relação a ministério paralelo, em que país do mundo o chefe do governo não vai ouvir pessoas diferentes. No Brasil seria diferente? Quantas pessoas têm pensamento diferente em relação ao governo? É natural que o presidente ouça.

Agora tratar isso como ministério paralelo é abusar da inteligência das pessoas. O que até agora eles não conseguiram provar é a ingerência direta do presidente em relação ao ministro de plantão. Só criam especulação.

O sr. diz que não há ingerência do presidente nas decisões dos ministros. A culpa de erros ou omissões então é dos respectivos ministros da Saúde. Eles devem ser responsabilizados em relação a erros ou omissões? É uma premissa básica. A gestão de cada ministério está a cargo do gestor da pasta. Agora a diretriz é claro que é do presidente da República.

Então, com relação à carta do Mandetta, a culpa foi dele, do ministro, pelo que deixou de ser feito ali? Na gestão do Pazuello há documentos que mostram que o governo propagou o uso da cloroquina. Se houver comprovação, foi o Pazuello que errou? Ele deve ser responsabilizado e não o presidente? Não é momento para discutir responsabilização. É momento para buscar provas, conhecer os fatos, tomar depoimentos.

Os governadores tiveram autonomia para dizer o que seria feito. Quem adotou protocolo mais radical, as taxas de internação e mortes são menores do que em outros estados que seguiram perfil mais equilibrado, moderado? Os dados não apontam nessa direção.

Então, com todo respeito, está cheio de gente com solução pronta para um problema complexo. Não cola.

É preciso olhar para os dados reais. Querem colocar no peito do presidente o carimbo de culpado por todos os erros da pandemia. Isso é injusto, é desonesto.

O sr. defende que os governadores sejam chamados a falar, embora eles não possam ser convocados? Eu defendo que a investigação chegue onde ela tem de chegar. Neste momento há um foco no Ministério da Saúde. OK. Ela foi aprovada com essa finalidade.

Mas ela também foi aprovada para investigar o caminho dos investimentos, do dinheiro, recursos e equipamentos foram encaminhados aos estados e municípios. A investigação para ser séria precisa chegar onde chegou o dinheiro e o que foi feito com ele.

Aproveitando que o sr. está falando de colocarem no peito do presidente o carimbo de culpado, queria perguntar sua opinião sobre o relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL). O relator foi escolhido pelo presidente da comissão. Eu divirjo de como ele conduz o relatório, mas respeito, ele está no papel dele.

Agora a maneira como ele conduz a tomada de depoimentos, é só observar. Você vai ver que tem tratos e tratos. Com o Mandetta foi um tratamento, com o [ministro da Saúde, Marcelo] Queiroga foi completamente diferente. Ele tenta induzir o depoente a uma resposta que satisfaça o seu interesse. Isso não é tomada de depoimento.

A Folha revelou telegramas do então ministro Ernesto Araújo atuando para garantir o fornecimento de cloroquina. Isso é visto pela oposição como uma prova de que o governo atuou para propagar o uso da cloroquina. Eu não conheço os documentos, mas, para além disso, a gente tem de cuidar para que a CPI não se transforme na CPI da cloroquina.

Isso foi feito na última reunião. Me parece ter ficado de lado a CPI da pandemia e ter entrado em cena a CPI da cloroquina. Cite um medicamento que está registrado contra a Covid-19? Não tem.

O que estão fazendo Brasil afora é o tratamento "off label", sem indicação na receita, de A a Z.

Os próximos depoimentos preocupam os senhores? Em especial do Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação, que já atribuiu ao Ministério da Saúde a culpa por atraso na compra de vacinas da Pfizer? Não. O governo não tem de se preocupar com depoimento. O que nos causa preocupação é a linha de condução da investigação.

Me parece querer confirmar a todo o tempo uma narrativa pronta. Isso preocupa. O governo não tem de temer a investigação. Tem de ser colaborativo. O que o governo não pode aceitar é uma narrativa de uma comissão que tem um comportamento que mais parece um tribunal da Inquisição, que tem um pré-julgamento muito claro. Isso não dá para aceitar.

O general Pazuello alegou contato com dois coronéis que estavam com Covid para faltar à CPI. Hoje, o vice-presidente da comissão disse que circulam histórias de que ele possa tentar obter um habeas corpus para não aparecer. O sr. defende que ele compareça para explicar ou acredita que num ambiente descrito como Inquisição ele não deveria participar? É muita especulação. Tem gente que cria fatos para vender versões. Eu não acredito que o general Pazuello tenha qualquer tipo de preocupação em comparecer à CPI para prestar depoimento.

Então o sr. defende que ele compareça. Acho que não tem porque ele fugir. Quem está falando em fuga é alguém que nem contato com ele ou com o governo tem, é vendedor de narrativa.

RAIO-X

Marcos Rogério, 42
Foi deputado federal por dois mandatos, eleito pela primeira vez em 2010. Foi filiado ao PDT de 2007 a 2016, quando migrou para o DEM. Atualmente líder do partido no Senado, foi eleito para uma cadeira na Casa pela primeira vez em 2018. Formado em direito pelo Centro Universitário Luterano de Ji-Paraná, em Rondônia, atuou como radialista e jornalista

 

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