Postado às 05h21 | 13 Abr 2020
Diário de Notícias, editado em Lisboa, Portugal
O primeiro-ministro britânico teve alta, este domingo, depois de ter estado internado por causa da covid-19. Já em casa, gravou uma mensagem a agradecer a todos os profissionais de saúde, destacando dois: Luís de Portugal, e Jenny da Nova Zelândia.
Luís Pitarma, 29 anos, é de Aveiro e vive em Londres desde 2013. É enfermeiro e trabalha há quatro anos no serviço de cuidados intensivos do Hospital St Thomas's, onde o primeiro-ministro britânico esteve hospitalizado durante uma semana, até este domingo.
O português Luís Pitarma é, desde o ano passado, enfermeiro sénior nesta instituição de saúde e, segundo o seu perfil no Linkedin, pertence ao programa de oxigenação por membrana extracorporal (ECMO), um procedimento aplicado em situações de insuficiência respiratória, uma especialização que o tornou numa das pessoas indicadas para acompanhar o primeiro-ministro do Reino Unido, durante o internamento nos cuidados intensivos (onde Boris Johnson esteve três dias).
Já com alta e uma vez na sua residência de campo em Chequers Court, a 70 quilómetros de Londres, Boris Johnson gravou uma mensagem para o Reino Unido, país que ultrapassou, este domingo, as 10 mil mortes de convid-19. No vídeo - publicado no Twitter - pediu a todos os britânicos para ficarem em casa, agradeceu a colaboração da população nesta altura e, principalmente, a ajuda de todos os profissionais de saúde que combate a pandemia.
"Espero que não se importem, mas tenho de referir dois nomes, que estiveram ao meu lado durante 48 horas quando as coisas poderiam ter dado para o torto", disse o governante antes de mencionar os dois enfermeiros "Jenny da Nova Zelândia e Luís de Portugal, de perto do Porto".
Este não foi o único elogio feito a Luís Pitarma. Menos de três horas depois da divulgação da mensagem, o Presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa, juntava uma dedicatória sua ao enfermeiro de Aveiro. "O Presidente da República sublinha o especial reconhecimento apresentado hoje pelo Primeiro-Ministro britânico, Boris Johnson, ao enfermeiro português Luís Pitarma pelo seu trabalho e vigilância durante o internamento nos cuidados intensivos", pode-se ler-se na página da Presidência da República.
A mesma nota faz saber que Marcelo Rebelo de Sousa já "transmitiu pessoalmente o seu agradecimento ao enfermeiro Luís Pitarma".
O enfermeiro português especializou-se no serviço de cuidados intensivos, um diploma que partilhou numa imagem na sua conta do Instagram, que este domingo, depois das palavras de Boris Johnson, tornou privada.
Luís tem várias formações na área feitas no centro académico de King's Health Partner, na Universidade de London South Bank e, mais recentemente, no Royal Free Hospital.
A primeira de todas - a licenciatura - foi feita em Portugal. Estudou na Escola Superior de Enfermagem, em Lisboa, altura em que também fez Erasmus na Universidade de Lahti, na Finlândia - um dos muitos países europeus para onde viajou, mostram-no os retratos das redes sociais em diferentes cenários do Europa.
Depois de ter terminado a licenciatura (2013), Luís foi viver para o Reino Unido. Começou por trabalhar nos arredores de Londres, no Hospital Universitário Luton e Dunstable - sempre no serviço nacional de saúde. E, passados dois anos, integrou a equipa do Hospital de St. Thomas. É um dos muitos profissionais de saúde a exercer no Reino Unido.
De acordo com dados divulgados pela Ordem dos Enfermeiros, em janeiro, o Reino Unido é o país para onde emigraram mais enfermeiros portugueses. "Temos ideia de que, por ano, mais de 50% dos pedidos de declaração para efeitos de emigração, ou seja, mais de mil por ano, têm como destino o Reino Unido", dizia a Ordem em comunicado sobre emigração na profissão. Muitos estão agora a trabalhar na linha da frente no combate à covid-19, como mostrava uma reportagem da agência lusa, publicada este domingo.
"Como alguém que tem a formação de enfermeira e experiência em cuidados intensivos, era importante nesta altura ajudar o país. Até pelo juramento profissional que fiz", dizia a enfermeira Alexandra Freitas, à Lusa, que vive no Reino Unido, há 12 anos.
Alexandra até já se tinha afastado dos hospitais e era consultora numa farmacêutica há três anos, para ter mais tempo para a família. Mas agora o sentido de missão falou mais alto.
Nas últimas 24 horas, o Reino Unido registou mais 737 óbitos e 5288 casos, segundo os dados oficiais divulgados esta tarde de domingo. No total, o país tem agora 84 279 infetados e 10 612 mortes.
É o sexto país do mundo com o maior número de casos, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, Espanha, Itália, França e Alemanha.
Entre os casos de infeção pelo novo coronavirus está, desde 27 de março, Boris Johnson, que apesar de já ter tido alta médica ainda não está completamente recuperado e, por isso, não vai regressar já ao trabalho, segundo um porta-voz do seu gabinete. À frente do país está, provisoriamente, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Dominic Raab.