Postado às 05h11 | 22 Jul 2020
Fernando Scheller, O Estado de S.Paulo
O empresário José Seripieri Filho, de 52 anos, fundador e ex-presidente da administradora de planos de saúde Qualicorp, era conhecido no mercado como um administrador astuto e que, segundo pessoas próximas, sempre esteve próximo de figuras de poder, independentemente do partido que estivesse no Planalto. Uma fonte, porém, se disse surpresa com a proximidade – e a generosidade – de Júnior, como é conhecido, com o senador José Serra (PSDB).
Segundo apurou o Estadão, a aproximação entre os dois começou em 2010, quando um amigo em comum apresentou o fundador da Qualicorp ao então candidato à Presidência da República. Nessa época, a companhia era líder de setor. Quem conhece Júnior, no entanto, garante que a proximidade do empresário com figuras poderosas não se resumiu a tucanos. O círculo de amizade também incluía petistas.
O bilionário Júnior – que já apareceu na lista de bilionários formulada pela revista Forbes – começou de baixo e é visto como um empresário que se fez sozinho. Ainda menor de idade, levava e trazia bugigangas do Paraguai. Queria ser médico, mas não passou no vestibular. Resultado: com ajuda do pai, acabou virando vendedor de planos de saúde.
Uma das principais anedotas da trajetória de Júnior é o fato de ser gago. Ele contornou a questão ao trocar as vendas por telefone pelas de porta em porta. Foi por conhecer intimamente os problemas e os custos das operadoras que ele decidiu tirar as áreas comercial e administrativa das contas dessas companhias: acabou criando um negócio que virou “queridinho” da Bolsa.
Muita gente no mercado credita a Júnior uma “invenção” no mercado de saúde privada: a criação dos planos coletivos de categoria. Em vez de um grande grupo de usuários ser necessariamente reunido por uma empresa, os segurados também passaram a ser agregados por sindicatos e outras entidades. É uma forma mais fácil e lucrativa do que captar consumidores individualmente. A inovação foi consolidada depois de uma mudança na legislação do setor.
Há pelo menos dez anos a Qualicorp é uma empresa disputada no mercado e querida por investidores. Recebeu aportes de grandes fundos internacionais – como os americanos General Atlantic e Carlyle – e realizou uma bem-sucedida abertura de capital (arrecadou, em valores de 2011, cerca de R$ 1 bilhão). Júnior manteve-se presidente da companhia até 2019.
Sua saída também veio acompanhada de uma polêmica. Em 2018, dentro do pacote de sua transição profissional, Júnior negociou com os demais acionistas um prêmio de R$ 150 milhões. O episódio assustou o mercado e, à época, os papéis da Qualicorp despencaram. Ao longo de 2019, com o esclarecimento das condições, as ações voltaram a subir.
Júnior acabou deixando o negócio com uma cláusula de não competição que o impedia de atuar no setor de saúde por um longo período. No entanto, essa condição acabou sendo renegociada depois que ele decidiu comprar um negócio que estava dentro da Qualicorp – o plano de saúde QSaúde.
O empresário praticamente zerou sua posição acionária na Qualicorp depois de ter deixado a presidência da companhia – a transição foi consequência da entrada da Rede D’Or no rol de acionistas da companhia. Hoje, sua participação giraria estaria abaixo de 3%. Pelas regras atuais do mercado brasileiro, acionistas com menos de 5% do capital não precisam revelar o tamanho real de sua posição.
Apesar disso, o envolvimento do nome do ex-controlador em um escândalo político não agradou os investidores da companhia. Os papéis ordinários da Qualicorp fecharam o dia com queda de 6,41%, cotados a R$ 29,81 – a maior baixa do Ibovespa, principal índice de ações brasileiro no dia. / COLABOROU ANDRÉ VIEIRA