Postado às 04h34 | 28 Ago 2020
Guga Chacra
Donald Trump teve menos de 2% dos votos de mulheres negras nas eleições de 2016, segundo levantamento do Pew Research. Já Hillary Clinton teve 98%. Há algo errado com um presidente tão impopular com toda esta parcela do eleitorado americano. Mesmo se levarmos em consideração a população afro-americana como um todo (incluindo os homens), o então candidato republicano obteve apenas 6%.
Para muitos nos Estados Unidos, Trump é um racista e chega em muitos momentos a simpatizar com ideias de supremacistas brancas. O presidente não demonstra nenhuma empatia com os negros vítimas da violência policial. Usa o argumento do “amigo negro” para argumentar que não é racista – só o fato de precisar explicar que não seria racista já diz bastante sobre ele.
Trump não se importa com Jacob Blake, com George Floyd ou com outras vítimas da violência policial. Trump se importa com a sua base eleitoral. Acha o máximo convidar para a sua convenção um casal que é conhecido apenas por apontar armas para manifestantes pacíficos contra o racismo. Tem de ser muito ingênuo ou mal-intencionado para não perceber que Trump exacerba a tensão racial e está interessado sim no voto de racistas.
Quando Trump convida alguns dos raros negros para discursar em sua convenção, ele não está interessado em ampliar de 2% para 3% o total do eleitorado de mulheres negras. Seu objetivo é dar uma desculpa para alguns eleitores dizerem que ele não seria racista e, portanto, podem votar nele.
É uma gigantesca hipocrisia. Quem vota no Trump sabe bem em quem está votando. Pode argumentar que a economia vinha bem antes da pandemia, o que é verdade, embora a taxa de criação de empregos e de crescimento da economia nos seus três primeiros anos tenha sido inferior às dos três últimos anos de Barack Obama. Podem argumentar que nomeou dois juízes conservadores para a Suprema Corte e dezenas de outros para a Justiça Federal. Mas não dá para argumentar que o presidente tenha sido bom na condução da pandemia ou no combate ao racismo. Pelo contrário.
Mas muitos eleitores são hipócritas, como aquele líder religioso evangélico apoiador de Trump chamado Jerry Fallwel Jr, presidente da Liberty University, uma universidade que supostamente busca disseminar os valores cristãos. Enquanto pregava que seus estudantes não fizessem sexo fora do casamento e condenava o adultério, transava com uma assistente ao mesmo tempo que gostava de ver a sua mulher transando com um rapaz que limpava a piscina. Nada contra as diversões sexuais. O problema é a hipocrisia.
Não podemos esquecer daqueles que defendem o policial responsável pelos disparos contra Jacob Blake dizendo que a vítima teria “uma faca no carro”. São estas mesmas pessoas que defendem o direito de comprar fuzis e se afiliam à NRA (lobby das armas). Mas, claro, desde que o comprador dos armamentos seja um supremacista ou um racista como eles. Um negro com uma faca, na cabeça racista deles, é um criminoso em potencial.