Postado às 04h31 | 10 Set 2020
Levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo (USP), mostra que o preço do arroz aumentou 120% nos últimos 12 meses. O dado não representa uma grande novidade para o consumidor, que, em Brasília, já paga até R$ 30 por um saco que, antes da pandemia, custava R$ 8. A grande dúvida é por que essa alta aconteceu e, principalmente, quando os preços devem voltar ao antigo patamar.
Em primeiro lugar, a alta se deve a alguns motivos. Mas, de acordo com Mauro Rochlin, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o grande vilão é o dólar. "A questão do cambio é fundamental", diz o professor, explicando que a valorização da moeda americana afeta diretamente as commodities, que são os produtos vendidos internacionalmente. "As commodities têm como referência o dólar. Isso explica não só o preço do arroz, como também dos derivados de soja e outros produtos", acrescenta.
O economista lembra que, nos últimos seis meses, o dólar subiu cerca de 40%. Isso significa que exportar o grão passou a render mais. E esse aumento acaba sendo repassado para o mercado interno. "O produtor tenta fazer com que o produto vendido dentro do Brasil tenha um aumento parecido, para compensar uma espécie de perda relativa. Ele compara com o que ganharia caso decidisse exportar os grãos", afirma.
Procurada pelo Correio, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) enviou nota em que reforça a explicação cambial, mas aponta outros fatores que contribuíram para o aumento do preço especificamente do arroz: elevados patamares de preço internacional anteriores à crise de covid-19, a redução de área plantada no Brasil nas últimas duas safras, resultado das baixas rentabilidades identificadas nos últimos anos e o aumento da demanda pós-pandemia.
Para Rochlin, uma queda significativa do preço dependeria de uma valorização do real perante o dólar. Isso torna difícil prever quando o arroz ficará mais barato. "É difícil prever o que vai acontecer com o dólar. Se houver uma estabilização ou queda, o preço das commodities cai. Mas se o dólar continuar aumentando, vai subir. Não há como prever."
Já os técnicos da Conab acreditam que, independentemente do dólar, os preços tendem a cair, mas só no começo do ano que vem. Eles lembram que, historicamente, o preço do arroz costuma ser mais alto no segundo semestre do ano, por se tratar de período de entressafra. Há, portanto, uma tendência de queda a médio prazo. Além disso, com os bons resultados que quem plantou arroz está obtendo, a tendência é que a produção aumente, fazendo com que a safra 2020/2021 seja maior, jogando o preço para baixo.
"É esperado que os excelentes preços atuais estimulem uma forte recuperação de área e, com isso, com uma produção maior, seguramente os preços vão se arrefecer no próximo ano. Ressalta-se, por último, que as cotações de arroz no Brasil são significativamente impactadas pelo volume produzido internamente", diz a nota da Conab.
Diante desse cenário, o governo federal decidiu tomar algumas medidas para que o consumidor encontre arroz mais barato no mercado ainda este ano. A ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, afirmou, nesta quarta-feira (9/9), que não será feito o tabelamento de preços. No entanto, a pedido do presidente Jair Bolsonaro, o Comitê-Executivo de Gestão (Gecex) definiu que 400 mil toneladas do grão poderão ser importadas sem imposto até o fim do ano, o que deve reduzir o valor com que o alimento chega às prateleiras.