Postado às 04h29 | 24 Jul 2020
Globo
Um estudo com 55 hospitais no Brasil mostrou que a hidroxicloroquina, preconizada pelo presidente Jair Bolsonaro para o tratamento da Covid-19, é ineficaz para casos leves e moderados da doença. Não é a primeira pesquisa a alertar contra o uso do remédio que o presidente recomenda, mesmo depois do terceiro resultado positivo para Covid-19 de Bolsonaro. E também não fez o presidente, que hoje passeou de moto sem máscara e conversou com garis no Palácio da Alvorada enquanto se recupera da doença, mudar de ideia. Na live da noite desta quinta-feira, ele manteve a defesa do medicamento.
O Hospital Israelita Albert Einstein, onde Bolsonaro se tratou da facada que levou em 2018, foi um dos participantes do estudo, cujos resultados foram publicados no periódico científico “New England Journal of Medicine”. Assim como o Marcílio Dias, da Marinha. Mas nem a participação de uma unidade das Forças Armadas e do hospital em que foi cuidado foram suficientes para Bolsonaro abandonar a hidroxicloroquina. Por uma razão política.
O presidente se projetou como um deputado que mostrava prazer em ir contra a corrente, desmerecendo qualquer consenso e desconfiando das instituições. Se as evidências contrariam suas teses, ele as ignora e contraria de volta. Foi assim com o resultado da votação do fundo de financiamento do ensino básico, o Fundeb, em que o governo foi derrotado, mas o presidente celebrou como uma vitória.
Com esse comportamento, Bolsonaro atraiu apoiadores hostis a tudo que soe institucional e também capazes de verem somente o que querem ver. Como a deputada Bia Kicis: apeada da vice-liderança do governo no Congresso, avisou nas redes que mantém o apoio a Bolsonaro. Mas Bia não é um caso raro ou isolado. Há ainda uma quantidade não desprezível de pessoas atraídas pelo discurso de Bolsonaro, por suas frustrações, sensação de inadequação, insatisfação com o que as instituições prometem e o que entregam. Os adversários do bolsonarismo terão de no mínimo ouvir o que essas pessoas têm a dizer: no jogo político, elas são uma evidência que não pode ser ignorada.