Postado às 04h14 | 31 Mar 2020
Ascânio Seleme - GLOBO
Mais uma vez Bolsonaro mostrou todas as suas limitações intelectuais proibindo entrevistas isoladas do ministro da Saúde, Luiz Mandetta, e de sua equipe sobre o coronavírus. Foi patético. Imaginem que de agora em diante o general Braga Neto, do alto do seu vasto conhecimento sanitário, será o principal interlocutor sobre o vírus mais letal dos últimos cem anos. Se já estávamos mal, com um presidente absurdo, agora estamos duplamente ferrados.
O presidente, segundo matéria do GLOBO, estaria incomodado com o protagonismo de Mandetta. É isso, mas também é mais do que isso. Verdade que Bolsonaro é invejoso e ciumento, detesta quando lhe roubam o espetáculo. Mas é difícil encontrar alguém menos qualificado do que ele dentro do seu ministério. Por isso ele vai estar sempre em desvantagem, sobretudo no que se refere ao conteúdo. Mas também na capacidade de articulação. Mandetta dá um show de oratória no capitão. Talvez o chefe da Casa Civil cumpra melhor esse papel. Ele não sabe falar. E não gosta.
Bolsonaro quer também que o chefe da força tarefa contra a crise transmita o seu recado. Faça propaganda do governo. Tirando o protagonismo de Mandetta, as informações sobre o avanço do vírus são misturadas com outras importantes, mas de longe menos do que aquelas que o ministro da Saúde e seu pessoal precisa transmitir para a população. Foi isso o que ocorreu hoje. A entrevista começou com o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, informando que tudo funciona bem na logística nacional. Se funciona, por que relatar? A preocupação é com o que não funciona.
Depois falou o ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni. Também fez loas ao que funciona, ou ao que ele diz que funciona. O Bolsa Família, por exemplo, ou como deverá ocorrer o pagamento da ajuda de R$ 600, no futuro. Muito bem. Parabéns. É isso o que se espera do governo. Mas, nada de novo. Nada relevante. Apenas propaganda. Até o chefe da Advocacia Geral da União falou. André Mendonça disse que é hora de serenidade e bom senso. Sei lá, acho que Bolsonaro não deve ter gostado. De resto, blá-blá-blá.