Postado às 06h55 | 14 Jul 2020
Guga Chacra
O populista de extrema direita Andrzej Duda foi reeleito presidente da Polônia ao derrotar o prefeito de Varsóvia e líder da oposição, Rafal Trzaskowski, que segue uma corrente liberal, no sentido progressista da palavra. A vitória consolida esta guinada polonesa contra o liberalismo e o multilateralismo e a favor do soberanismo e de medidas reacionárias. Dá ainda um alento a figuras políticas com ideologia próxima à do atual governante polonês, como Jair Bolsonaro, Recep Tayyp Erdogan e Viktor Orbán.
A margem da vitória foi minúscula. Duda obteve 51,2% dos votos válidos, contra 48,8% de Trzaskowski. Como é comum com líderes populistas em todo o planeta, com a exceção do Brasil, Duda obteve sua vitória graças ao interior do país. Nas grandes cidades, como Varsóvia, onde a população é mais progressista, Trzaskowski saiu vencedor. Esta vantagem nas metrópoles, no entanto, se mostrou insuficiente.
Caso Trzaskowski houvesse vencido, ele não necessariamente conseguiria derrubar o poder da extrema direita polonesa, representada pelo Partido Lei e Justiça (PiS, na sigla em polonês), que controla também o Parlamento. A figura mais forte desta agremiação não é o presidente Duda e sim o seu mentor, Jaroslaw Kaczynski, que fundou o partido com seu irmão gêmeo, Lech Kaczynski, morto em acidente de avião em 2010 – os dois chegaram a governar a Polônia como premier e presidente no passado. Ainda assim, sem Duda, muitas medidas extremistas poderiam ser revertidas e simbolicamente seria um forte revés para a extrema direita.
Esta vitória de Duda deve levar a Polônia a adotar novas medidas extremistas, com mais restrições aos direitos dos homossexuais, intervenção no Judiciário e controle da imprensa. Assim como Orbán, da Hungria, Duda é visto como um dos líderes das chamadas "democracias iliberais" da Europa – no índice de democracia da Economist Intelligence Unit, o país está na 57ª colocação. O Brasil é o 52º colocado. Segundo a Freedom House, que monitora a democracia ao redor do mundo, desde que chegou ao poder em 2015, o PiS tem adotado medidas que ameaçam reverter o progresso democrático polonês desde o fim do comunismo.