Postado às 05h50 | 24 Out 2020
Estado
O Primeiro Comando da Capital (PCC) movimentou R$ 1,2 bilhão com o tráfico internacional de drogas por ano – a quantia não inclui os negócios particulares feitos por seus membros e associados. Os dados constam dos documentos apreendidos na Operação Sharks, que investigou a lavagem de dinheiro da facção entre junho de 2018 e setembro de 2020.
A Justiça de São Paulo decretou nesta sexta-feira, 23, a prisão de 18 acusados de pertencer à cúpula da estrutura de tráfico de drogas e de lavagem de dinheiro e de comandar as ações da organização criminosa nas ruas. “Creio que essa será a primeira fase da Lava Jato do PCC”, disse o promotor Lincoln Gakiya, um dos seis que assinam a denúncia contra o grupo.
O Primeiro Comando da Capital (PCC) movimentou R$ 1,2 bilhão com o tráfico internacional de drogas por ano – a quantia não inclui os negócios particulares feitos por seus membros e associados. Os dados constam dos documentos apreendidos na Operação Sharks, que investigou a lavagem de dinheiro da facção entre junho de 2018 e setembro de 2020.
A Justiça de São Paulo decretou nesta sexta-feira, 23, a prisão de 18 acusados de pertencer à cúpula da estrutura de tráfico de drogas e de lavagem de dinheiro e de comandar as ações da organização criminosa nas ruas. “Creio que essa será a primeira fase da Lava Jato do PCC”, disse o promotor Lincoln Gakiya, um dos seis que assinam a denúncia contra o grupo.
Entre os acusados pelo Ministério Público Estadual (MPE) estão Marcelo Moreira Prado, o Sem Querer; Eduardo Aparecido de Almeida, o Pisca; e Marcos Roberto de Almeida, o Tuta. Este permanece em liberdade e é apontado como o atual chefe da facção nas ruas.Só uma parte do dinheiro detectado pelos promotores foi movimentado no sistema financeiro – cerca de R$ 200 milhões – por meio de contas bancárias em nomes de laranjas e de empresas fantasmas. O restante foi mantido em casas-cofre e transportado em carros até ser entregue a doleiros, que remetiam os recursos para o exterior a fim de a facção pagar seus fornecedores de drogas no Paraguai, na Bolívia e no Peru.
Esta á primeira vez que o MPE se aproxima da decisão de qualificar o PCC como organização de tipo mafioso, pois esclarece os esquemas de lavagem de dinheiro do grupo, última etapa para que o grupo pudesse ser considerado uma máfia. “Mostramos que o dinheiro do PCC não fica no Brasil. Ele vai para o exterior”, afirmou o promotor Gakiya.
As investigações do MPE começaram no dia 8 de agosto de 2018, quando foi preso Robson Sampaio de Lima, em São Paulo. Com ele, os policiais acharam telefones celulares, computadores e drogas. Ali estavam documentos da contabilidade do setor financeiro da facção.
Segundo a denúncia da promotoria, Prado, o Sem Querer, exerceria o controle do setor financeiro do PCC. Ele dava ordens a Lima. Tanto Sem Querer quanto Almeida, o Pisca, foram presos em 18 de julho de 2018, em Assunção, no Paraguai.
Toda a movimentação financeira da facção só podia ser feita por meio de ordens de Sem Querer. Era ele quem determinava a entrega de remessas de dinheiro para os doleiros do PCC, informando os valores e para quem devia ser destinado o dinheiro da rede de casas-cofre.
As casas-forte foi o meio encontrado pela facção para lidar com a grande quantidade de dinheiro do tráfico de drogas. A rede foi criada – o tesouro do PCC – para que o grupo mantivesse sua liquidez. As casas ainda resolviam o problema de encontrar esquemas para a lavagem do dinheiro. Os investigadores desconfiam que parte delas esteja instalada em casas de luxo adquiridas pelo grupo em bairros nobres.
Nos computadores de Lima foram apreendidas planilhas que mostram que Sem Querer e Pisca eram os dois líderes do PCC aos quais elas estava subordinadas. Os dois eram ligados a Tuta, apontado como o responsável por organizar a facção nas ruas, cuidando da distribuição de drogas. Ele ainda seria responsável pelos depósitos de armas do grupo e manteria relações com Lima.
Prova disso seriam mensagens que ele trocou com Lima nas quais o subordinado pedia autorização para retirar 50 baldes de anfetaminas guardados na residência de um casal que alugava o lugar por R$ 1,2 mil.
Outro acusado no caso é Odair Lopes Batista Junior. Subordinado a Tuta, ele seria o responsável pelo chamado setor do Progresso, o varejo das drogas na capital paulista e na Baixada Santista. Só em janeiro de 2019, ele teria movimentado – segundo planilha apreendida – 1,85 tonelada de cocaína. Em fevereiro, esse número ficou um pouco abaixo: 1,73 tonelada. Outras 2,8 toneladas foram trazidas entre março e julho.
Ao todo, o PCC movimentou no primeiro semestre de 2019 – incluídos todos os esquemas – 15 toneladas de cocaína, que foram transportadas do exterior para São Paulo e Baixada Santista. A facção passou ainda a atuar na venda de anfetaminas, além de cocaína e maconha.
Para fazer a distribuição da droga e do dinheiro, a facção montou uma rede de celulares que só se comunicavam entre si. Nenhum de seus integrantes podia manter em seus telefones contatos com outras pessoas. Quando o telefone de um deles foi apreendido por policiais militares que não sabiam que estavam diante de um dos guardiões de uma casa-forte da facção, a chefia mandou Lima refazer toda a rede de telefones celulares do grupo, substituindo os aparelhos usados. Em uma única vez, a facção comprou 28 aparelhos por R$ 63,4 mil para os chefes. E usou outros R$ 341 mil para adquirir telefones e chips para outros integrantes do setor financeiro.
Quem era responsável por montar a rede , segundo o MPE, era Carla Ruy Riciotti Lima. Era ela quem gravava nos aparelhos os aplicativos que deviam ser usados e os contatos que cada um deveria ter para resguardar a segurança da cúpula da facção. Com ela foram apreendidas centenas de chips durante as buscas em sua casa, em 14 de setembro deste ano, quando a acusada foi presa.
Seu chefe, Robson Lima foi ainda apontado pela MPE como o responsável por pagar propinas para policiais corruptos e despesas de viagens do grupo. Em sua planilhas há detalhes até de quanto foi gasto para “embrulhar o arame”, como a facção chama a compra de rolo plástico para embalar dinheiro vivo. Há ainda compras de chips para celulares e até o pagamento de IPVA de carros usados para transportar o dinheiro, pois a facção não ia querer perder um carro carregado por causa de imposto atrasado.
Nos documentos do PCC, os doleiros são identificados por codinomes. Entre eles está o da “Veia”. Ela recebeu, por exemplo, US$ 626 mil dos US$ 900 mil negociados por um dos traficantes da facção em uma operação descrita nas planilhas e mensagens de celular apreendidas. Nelas, os valores em dólares são descritos como “em verde” em contraposição ao entregue aos doleiros em “real”.
O esquema do PCC foi afetado pela Operação Câmbio Desligo, da Polícia Federal, em maio de 2018, que investigou entre outros o doleiro Dario Messer. Após a ação, o membro da facção Robson Sampaio de Lima ficou em dúvida sobre como continuar a remessa de valores para o exterior. O transporte do dinheiro era sempre fracionado. O limite máximo por viagem era de R$ 250 mil.
O grupo chegou a discutir instituir o esquema de transportar o dinheiro por meio de pessoas chamadas de formigas ou mulas com sacolas, em razão da necessidade de muitas viagens diárias. Optou-se por contratar motoristas sem antecedentes criminais para fazer o transporte.
O mesmo sistema de fracionamento de dinheiro para o transporte era usado quando se buscava movimentar recursos nas contas bancárias de laranjas. “Os boys contratados para levarem dinheiro às agências bancárias faziam depósitos fracionados e em agencias diferentes”, diz a denúncia da promotoria.
O grupo aplicava o dinheiro na compra de carros, imóveis e na manutenção e compra de aeronaves. Só com aluguel de garagem, compra de combustível e pagamento de pilotos e mecânicos, a facção gastou US$ 990 mil de junho de 2018 a julho de 2019. A promotoria achou anotações sobre a presença de integrantes do PCC em Bulgária, Alemanha, Espanha, Angola e Argentina. De acusados na Operação Sharks, 8 estão foragidos.