Postado às 04h42 | 02 Nov 2020
Painel
A entrevista de Rodrigo Maia (DEM-RJ) à Folha consolidou a percepção em vários setores do Congresso de que ele não desistiu de tentar ser reconduzido à presidência da Câmara. O parlamentar declarou que Arthur Lira (PP-AL) é o candidato de Jair Bolsonaro (sem partido) à Casa e afirmou que não excluirá a esquerda de nenhum acordo que envolva sua sucessão. Para líderes da oposição e do centrão, o gesto teve como objetivo polarizar os deputados para assegurar apoio de um campo na briga.
A Constituição veda a reeleição de Maia. Há uma ação no STF para tratar do assunto. Embora o parlamentar negue publicamente essa opção, a aposta em partidos de centro e contra Bolsonaro é que, se conseguir uma saída jurídica, o deputado disputará de novo o comando da Casa.
Maia diz que há quatro ou cinco nomes que poderia apoiar na eleição do ano que vem. Para parlamentares, o fato de ele ainda não ter escolhido um deles cria um cenário para que o deputado diga, caso possa se lançar, que não houve consenso entre seus aliados e embarque na briga pela Câmara.
Para nomes importantes da esquerda, na entrevista, Maia quis amarrar o apoio do campo e construir uma narrativa que impeça os oposicionistas de votar em Lira sob pena de ficarem com a pecha de eleger um governista. A oposição na Câmara soma cerca de 130 votos de 513 e é considerada a fiel da balança na briga pelo comando da Casa em fevereiro de 2021.
O impasse em torno da instalação da CMO (Comissão Mista do Orçamento), uma prévia da disputa pela presidência da Câmara, não deve acabar tão cedo. Maia ofereceu um trato em que a bancada feminina ficaria com a relatoria do Orçamento em 2021 e em troca, seu aliado Elmar Nascimento (DEM-BA) presidiria o colegiado neste ano.
Pela ideia, Flávia Arruda (PL-DF), que representa o centrão na briga, seria a relatora, mas o acordo enfrenta resistência. A tendência é que só haja um desfecho quando as tratativas para a sucessão da Câmara tiverem resolvidas entre os dois grupos.