Postado às 15h22 | 14 Set 2021
A crise decorrente da pandemia obrigou empresas aéreas a estacionar a maior parte de suas frotas de aviões e, consequentemente, paralisou a carreira de milhares de pilotos no mundo todo. No Brasil, parte dos profissionais já vinha sofrendo com a quebra da Avianca Brasil e teve de deixar o País, no ano passado, para trabalhar na Ásia, um mercado que vinha crescendo rapidamente e cujos salários são mais elevados.
Agora, porém, com a crise global, as saídas são mais escassas. Só nas últimas semanas, 700 pilotos (ou 11% dos profissionais brasileiros da aviação regular de carga e de passageiros) foram demitidos pela Latam. Na Azul e na Gol, os pilotos tiveram salários e jornadas reduzidos até o fim de 2021.
Dispensados, profissionais tentam agora voltar à carreira de piloto de jatos executivos, alguns pensam em largar a profissão até que haja uma melhora no setor e outros dizem que vão esperar uma recuperação no mercado asiático, que deve ser o primeiro a ver uma retomada, para procurar uma vaga na China ou no Vietnã.
"Foram 700 demitidos na Latam. Quantos vão conseguir se realocar? Imagino que nem 10% no médio prazo. As empresas aéreas estão sangrando continuamente. O mercado de aviação civil é difícil, com margem pequena. Aí vem uma pandemia e acaba com o setor turístico", diz o piloto Paul Pic.
Se o grande número de profissionais sem emprego e a baixíssima demanda por eles já tornam o retorno ao mercado de trabalho difícil, os pilotos enfrentarão um problema extra nos próximos anos: precisarão manter suas licenças para voar atualizadas. Normalmente, as companhias aéreas arcam com esse custo, que pode chegar a US$ 5 mil por ano. Agora, esse dinheiro terá de sair do próprio bolso, caso eles queiram estar prontos para serem contratados quando o setor se recuperar.
A Associação Internacional de Transportes Aéreos (Iata) prevê que o mercado global só volte ao patamar de 2019 em 2024. No Brasil, porém, segundo o diretor da entidade no País, Dany Oliveira, a retomada pode ser mais rápida, puxada pela aviação doméstica. "A aviação que a gente tem hoje é 15% do que foi a de 2019. Então, tem um excesso de recursos humanos. Fazendo uma simples correlação, o mercado de trabalho deve retornar aos níveis de 2019 junto com o setor."
A crise já se reflete no Aeroclube de São Paulo, onde a maioria dos alunos pretende seguir a carreira de piloto. "Estamos com dificuldade para fechar turmas. Agora temos oito inscritos para uma turma que deveria ter 20", diz Marcos Pereira, diretor do aeroclube. Além do futuro obscuro, a mudança de classes presenciais para virtuais nos últimos meses também prejudicou o andamento dos cursos, diz Pereira. A intenção agora é conseguir fechar uma nova turma presencial.
Com a formação de piloto concluída no começo deste ano, Yuri Prado Silva, de 24 anos, estava participando de uma seleção da Azul quando a quarentena começou. O processo foi interrompido e, agora, ele pretende trabalhar como instrutor de voo até que as seleções sejam retomadas.
"Há uma semana, me tornei instrutor de voo. Meu sonho é chegar a uma linha aérea. Sei que o mercado está parado, mas a aviação não tem hora para ficar boa. Pode ser que, do nada, um companhia aérea comece a contratar. Por isso, é bom estar preparado", diz.
O trabalho como instrutor ajuda também Silva a somar horas de voos para poder atuar em uma companhia aérea. Enquanto algumas empresas pedem 250 horas de experiência, outras exigem 500 - Silva tem 257.
É um caminho longo e caro. Para tirar a carteira de piloto comercial e ter 150 horas de voo, o custo chega a R$ 200 mil. O salário, porém, costumava compensar. Em média, um comandante recebia R$ 20 mil por mês. Com a crise, tem profissional recebendo R$ 5 mil, diz o presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Ondino Dutra.
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