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Os amigos árabes do rei Juan Carlos

Postado às 04h39 | 19 Ago 2020

Diário de Notícias, Lisboa, Portugal

Juan Carlos apelida o rei de Marrocos de "sobrinho adotivo" em nome das boas relações que sempre manteve com o seu pai, Hassan II. E do rei Hussein da Jordânia era tão próximo que, quando em 1962 se casou com Sofia da Grécia, fez questão de o visitar durante a lua-de-mel. A amizade cresceu nos verões passados em Maiorca, e estendeu-se ao filho, Abdullah II, e à mulher, Rânia, que representou a família no casamento de Felipe e Letizia, em 2004. Estes são apenas alguns dos muitos amigos árabes de Juan Carlos, que deixou Espanha e se encontra nos Emirados Árabes Unidos (EAU).

Desde que abdicou em 2014 a favor do filho, Felipe VI, Juan Carlos tem estreitado amizade com vários herdeiros de famílias árabes, em particular com Mohammed bin Zayed Al Nahyan, líder de facto dos EAU, e, especula a imprensa espanhola, a razão pela qual o rei emérito terá escolhido Abu Dhabi, para se refugiar depois de ter deixado Espanha, procurando conter a controvérsia desencadeada por sucessivas notícias sobre a sua fortuna - sob investigação em Espanha e Suíça.

A amizade com o herdeiro do emirado de Abu Dhabi e líder do país depois do irmão, Jalifa bin Zayed, ter sofrido em 2014 um derrame cerebral, tem anos e confirmava-se sempre que Juan Carlos assistia aos grandes prémios de Fórmula 1 ao seu lado. É propriedade do príncipe o luxuoso hotel Emirates Palace, com um quilómetro de praia privativa, onde a imprensa espanhola acredita que Juan Carlos tem estado hospedado desde 3 de agosto, quando anunciou que deixava Espanha.

Conhecido como MBZ, Mohammed bin Zayed Al Nahyan foi considerado pelo jornal The New York Times como o homem mais poderoso do mundo árabe. Mais até do que o herdeiro saudita Mohamed bin Salman (MBS), que também faz parte do círculo de amigos árabes de Juan Carlos.

A proximidade a MBS

Foi justamente a fotografia que documentava a amizade entre Juan Carlos e MBS, durante uma corrida de Fórmula 1 em Abu Dhabi, que gerou uma crise política em Espanha, com pedidos de explicações de vários partidos (e mais uma das polémicas com o nome do antigo rei de Espanha após a abdicação).

O abraço do rei emérito ao líder saudita convertia-o no primeiro responsável político do ocidente a fazê-lo quando sobre Bin Salman já recaíam suspeitas sobre o envolvimento no desaparecimento e morte do jornalista e dissidente Jamal Khashoggi,

A proximidade da família real saudita com Espanha tem anos. Os verões das últimas décadas do século XX animavam (ainda mais) com a chegada a Marbella da família real saudita, a sua sumptuosa corte e os gastos excêntricos. A cidade no sul de Espanha foi trocada há poucos anos por um complexo em Tânger e a presença da família real saudita é assinalada apenas eplos seus luxuosos iates fundeados no Mediterrâneo.

Terá sido a família real saudita a pagar 100 milhões de euros a Juan Carlos, quando este era rei (e, portanto, gozava de estatuto de inviolabilidade) que agora estão sob investigação das autoridades da Suíça e Espanha, depois da sua ex-amante, Corinna Larsen ter afirmado aos procuradores tinha recebido do então rei 65 milhões de euros de presente "por gratidão e amor". Essas quantias eram transferidas através de uma fundação, com passagem por outro emirado, o Bahrein.

Os Emirados Árabes Unidos têm sido, segundo a imprensa espanhola, destino frequente de Juan Carlos desde que abdicou em 2014, desgastado física e mediaticamente após o triplo escândalo da caçada de elefantes no Botswana, dois anos antes, conhecida quando o rei foi transferido de urgência para Espanha após fraturar a anca.

Enquanto o país atravessava uma crise económica que levou à intervenção em vários bancos, Juan Carlos caçava uma espécie protegida, na companhia da amante, e, já então, com empresários árabes que pagavam a conta. Terá sido o empresário hispano-sírio Mohamed Kayali, braço-direito de Mohamed bin Salman e amigo do emérito, a custear o safari no Botswana, um dos mais caros do mundo (mais de 40 mil euros por pessoa).

Do círculo de amigos árabes de Juan Carlos também faz parte Mohamed bin Rashid Maktoum, que governa no Dubai, e cujo nome se tornou mais conhecido depois da mulher, Haya Bint al Hussain, o denunciar por sequestro e tortura num tribunal de Londres.

Se a paragem nos Emirados Árabes Unidos será permanente ainda ninguém sabe. Os amigos do rei emérito, ouvidos pelo jornal ABC, garantem que Juan Carlos pretender manter residência oficial na Zarzuela, mas estar sempre em trânsito, uma tese que não é corroborada oficialmente. Aos amigos, ainda em Espanha, disse que este seria um "parêntesis".

A Casa do Rei, chefiada por Jaime Alfonsín, principal conselheiro de Felipe VI, tem sido parca em comunicações. Depois de ter tornado pública a carta de despedida do rei emérito só voltou a falar, em comunicado, para divulgar a localização de Juan Carlos, sem, no entanto, precisar em qual dos emirados se encontra e sem dar a conhecer os detalhes de segurança do monarca. Por razões de segurança.

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