Postado às 05h12 | 21 Mar 2021
Ney Lopes
Impossível esconder os números da catástrofe no Brasil.
Diz-se que o problema da covid19 é mundial, mas em nosso país tornou-se mais grave. Estão registradas ontem, 20, 2.331 novas mortes, no pior sábado desde o início da pandemia. A média semanal de vítimas, que elimina distorções entre dias úteis e fim de semana, bateu recorde pelo 22º dia consecutivo e ficou em 2.234.
O número de novas infecções foi de 72.326.
Neste cenário desolador, o ex-presidente Temer concedeu entrevista ao Estado de São Paulo e confessou já ter sido procurado pelo presidente para trocar ideias.
A propósito, declarou que se Bolsonaro quiser saber a análise dele sobre a pandemia fará a sugestão de que o chefe do governo convoque uma entrevista coletiva, reconheça erros, defenda vacinação em massa e aceite políticas de isolamento social. O novo mantra do governo deveria, segundo ele, ser “unidos e vacinados”.
Tem absoluta razão o ex-presidente ao chamar atenção para o fato de que o ritmo e velocidade do vírus, inclusive com mutações agressivas, estão assustadores.
Afinal, nunca foi tão evidente que a economia é possível recuperar. A vida não.
Tais razões justificam que o presidente vá além do que já vem fazendo, liberando verbas para estados e municipios, o que é obrigação constitucional.
O exemplo do comportamento presidencial seria interpretado não como vacilação, mas sim como atitude de estadista.
Até na ciência ainda existem controversias sobre a natureza do vírus e suas consequencias. Logo, certas opiniões defendidas pelo presidente poderiam ser revistas, em nome de evidencias tidas como eficazes em todo o planeta.
No caso do Brasil atual não há que se falar de intenção, ou premeditação de atos do governo, assumidos durante a pandemia. Foram visões momentâneas de prioridade à economia; crença em certos medicamentos que surgiam, ou tratamentos sugeridos.
A história mostra pedidos de desculpas em situações históricas muito mais complexas.
Os EUA expressaram pesar pela escravidão em duas resoluções separadas - uma em 2008, de autoria da Câmara dos Representantes; e outra em 2009, pelo Senado
Em 2013, o governo do Reino Unido pediu desculpas e concordou com um pacote de compensação de US$ 25 milhões para os quenianos que foram torturados durante a revolta dos Mau-Mau nos anos 50.
A Alemanha Ocidental pagou indenizações após a Segunda Guerra Mundial pelas ações de seu Estado predecessor, a Alemanha nazista.
Os pagamentos para Israel e para sobreviventes do Holocausto, que começaram em 1953, totalizaram mais de US$ 70 bilhões
O pedido de desculpa, portanto, se repete nos países civilizados. Recentemente, o chefe do Estado Maior americano, o general Mark Milley desculpou-se por ter participado da caminhada inconsequente do então presidente Trump para posar numa foto em frente à igreja de St. John, próxima à Casa Branca, em Washington.
Ele considerou que a sua presença naquele momento e naquele ambiente criou uma percepção de envolvimento dos militares na política interna, o que é inadmissível nos Estados Unidos.
Nenhum desses exemplos foi considerado fraqueza.
Um gesto de grandeza de Bolsonaro, como sugere Michel Temer, o colocaria noutro patamar, inclusive para pleitear a sua reeleição. Seria o primeiro passo para a tão desejada "união nacional".
O Papa Francisco tem razão: "O primeiro em pedir desculpas, é o mais valente. O primeiro em perdoar, é o mais forte. O primeiro em esquecer, é o mais feliz"
Não se trata, portanto, de humilhação. Mas sim de humildade!
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