Postado às 05h57 | 12 Jan 2021
Ney Lopes
Explodiu a saída da Ford do Brasil, em momento de crise e desemprego.
Discordo sempre da política econômica do governo, sobretudo pelas injustiças, com relação aos assalariados e a classe média.
Neste caso da Ford, não atribuo ao governo federal culpa pela abrupta decisão da empresa.
Fala-se dos “abusos dos marajás” do serviço público, que existem e precisam ser contidos. Chega a hora de falar no “abuso dos marajás da economia”, que se locupletam e ganham lucros milionários com dádivas do governo, sem controle e sem fiscalização. Esclareça-se, que sou favorável a incentivos, isenções, que ajudem a iniciativa privada crescer.
Porém, no Brasil será necessário mais rigor nessas concessões. Veja-se a Ford. A empresa fez “lobbies” poderoso nos governos Themer e Dilma, em favor da aprovação do programa de incentivos “Rota 2030” (Decreto nº 9.557/2018), que garantiu descontos em impostos para montadoras, no valor de 1.5 bilhões ao ano, desde 2018.
Os benefícios são usufruídos também pelas empresas de autopeças. Além disso, Dilma desonerou a folha de pagamento para indústria e serviços. Com a desoneração, empresas do setor automotivo, que contribuiam ao INSS com 20% da folha de pagamento passaram a pagar de 1% a 2%.
Com todos esses estímulos, uma empresa como a Ford, da noite para o dia, decide “fechar” suas fabricas, em nome do livre mercado.
Não se nega que essa liberdade deve existir. Mas, deveria estar condicionada a explicações mais convincentes, que protegessem as repercussões sociais negativas.
Por que há dois anos atrás foram reivindicados incentivos e agora eles, além de nada valerem, levam os beneficiários a fecharem as portas de suas empresas e não se fala em devolver o que receberam de benesses?
Tudo fica, por isso mesmo.
Além do mais, o governo se desgasta, por lhe ser atribuída uma culpa, que na verdade não teve.
O episodio da Ford traz a debate a necessidade de regulamentação das concessões de benefícios fiscais no país.
Terá que ser uma “rua de mão dupla”. E não como é hoje: “o lucro é da empresa. O prejuízo é do governo”.
Tem razão o jornalista Ancelmo Góis quando escreveu sobre essa saída abrupta da Ford do país:
"No Brasil sempre se fala que: ou se faz determinada reforma ou a vaca vai prá o brejo. Foi assim com a reforma da Previdência e agora culpa-se a falta de uma reforma tributária pela saída da Ford do país. Nada contra reforma. Só que este setor dobrou de tamanho na última década dentro desse “manicômio tributário”. Tem caroço nesse angu."
Que capitalismo é este?