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Opinião: "Rogério Marinho se opõe ao presidente do BC"

Postado às 06h15 | 18 Nov 2021

Ney Lopes

Realizou-se o IX Fórum Jurídico de Lisboa.

O megaevento foi organizado pela Universidade de Lisboa, pelo IDP e pela FGV. A coordenação científica é de Gilmar Mendes, Carlos Blanco de Moraes e Luís Felipe Salomão.

Participaram Juízes das altas cortes portuguesas, do STF, do STJ, do TST e do TCU, o primeiro-ministro de Portugal, Antônio Costa; o ex-presidente Michel Temer; ex-advogados-gerais da União do Brasil; os presidentes dos bancos centrais dos dois países, ex-ministros da Defesa do Brasil e congressistas.  

Os debates não ficaram apenas em temas jurídicos.

Houve uma “pitada” política, em relação a realidade brasileira.

O presidente do BC Roberto Campos Neto ao falar deixou no ar uma crítica ao ministro Paulo Guedes e ao próprio presidente Bolsonaro, quando enfatizou que o país deveria preservar a linha de responsabilidade fiscal e reformas estruturais, para não decepcionar o mercado e sinalizar uma capacidade de crescimento sustentável mais alto.

A intervenção gerou discordâncias entre os presentes, integrantes do próprio governo federal.

Segundo registro do Correio Braziliense, o ministro do Desenvolvimento Regional Rogério Marinho discordou e defendeu o seu ponto de vista, que é o correto.

Deixou clara a posição de que o país não pode levar em conta apenas as questões fiscais e precisa “sobretudo” ter responsabilidade social.

As duas questões devem ser tratadas simultaneamente.

Na pandemia, a maioria das nações globais aplicou recursos no atendimento das carencias sociais, que vão além dos seus limites e tetos orçamentários.

Estados Unidos, Alemanha, Japão, Australia, Índia e outros são exemplos.

No Brasil há pouco mais de um ano, Marinho era chamado de “fura-teto” pela equipe da Economia, inclusive Guedes. Isso ocorreu pela sensibilidade social do ministro potiguar.

Agora, com a dívida dos precatórios e a pandemia, Guedes recuou na sua defesa intransigente do fiscal e segue a linha de Rogério Marinho e do presidente.

A questão é que Roberto Campos não recuará.

Ele tem autonomia dada pelo Congresso Nacional e pode continuar sua pressão para colocar em primeiro plano as contas públicas e depois o social.

Não poderá ser contido por ninguém, o que demonstra ter sido excessiva a autonomia dada ao BC pela legislação, recentemente aprovada.

Nos EEUU, o BC tem "limites", em relação ao governo e ao Congresso.

Com essa discordância, torna-se difícil saber se a PEC dos precatórios alcançará o seu objetivo de suprir o pagamento do auxílio Brasil e outras aplicações nos atendimentos aos miseráveis, que se multiplicam.

É um sintoma preocupante essa radicalização do presidente Roberto Campos, que certamente terá o apoio do chamado mercado.

O país atravessa séria crise não apenas econômica, mas também social.

Ou o governo aplica mais dinheiro para reduzir as tensões sociais, ou elas explodirão, como acontece até em países vizinhos.

Essa luta entre o econômico e o social sempre existiu.

Mas, numa véspera de eleições gerais (2022), a sua eclosão traz consigo apreensões.

Deus queira que essa análise não seja procedente e a paz social no Brasil seja mantida.

 

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