Postado às 07h02 | 05 Jul 2023
Ney Lopes
O termo “união” vem sendo desgastado na política brasileira, embora frequentemente usado pelo presidente Lula.
Durante a campanha eleitoral de 2022, ele disse que o país precisaria de tranquilidade e de previsibilidade. Mais que isso: em junho, afirmou que não era hora de brigar. “Não quero ninguém brigando, aceitando provocação”.
Entretanto, desde que tomou posse, quase sempre quando apela à união, em seguida vira um Jair Bolsonaro de sinal trocado. Radicaliza o seu discurso, provocando recuos e crises.
Já na posse, em 1° de janeiro, negou a bandeira de “paz política”, que pregou na campanha.
Em seu discurso na Esplanada, fez questão de atacar o antecessor e, apesar de dizer que não pensa em vingança, não conseguiu esconder o ressentimento pelas condenações que o levaram a passar 580 dias preso e sinalizou que não está exatamente preocupado com a pacificação do país.
Antes de completar um mês de governo provocou o empresariado, afirmando que um dono de empresa “não ganha muito dinheiro porque ele trabalhou, ele ganha muito dinheiro porque os trabalhadores dele trabalharam”. Deu recado a sua área sindical radical.
Sem qualquer evidência de que possa ser verdadeira, Lula admitiu a tese de que o senador Sérgio Moro (União-PR) poderia estar por trás da deflagração de uma operação da Polícia Federal que investiga planos do Primeiro Comando da Capital (PCC) para matar autoridades, incluindo ele próprio.
Chamou o episódio de armação de Moro.
No plano internacional, fez juramento de amizade à Biden na Casa Branca e depois em Pequim desdisse o que havia dito e aproximou-se dos chineses.
No caso da guerra da Ucrânia, por falar demais atritou-se com o presidente Zelenski.
Na América Latina, chamuscou as relações do Brasil com o Uruguai e o Chile, ao exaltar exageradamente o ditador Maduro e dizer que democracia tem um conceito relativo.
Em todas essas situações de atritos e entrechoques, o presidente usa como pano de fundo a condição de “pregador da união”.
As suas palavras não correspondem aos atos. Ao falar união, tem causado desunião.
Vejamos se à frente da presidência do Mercosul, em diálogo com a União Europeia, Lula muda o seu comportamento.
Se não mudar, jamais será firmado esse acordo econômico Europa e América Latina, que ele tanto defende e é realmente uma conquista, caso concretizado.