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Opinião: O “quarto turno”

Postado às 06h07 | 06 Nov 2022

Ney Lopes

O economista Paulo Nogueira Batista Jr. é um dos brasileiros mais experientes nas relações econômicas internacionais.

Foi vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, estabelecido pelos BRICS em Xangai, e diretor-executivo no FMI pelo Brasil e mais dez países.

Em análise recente, ele levanta hipótese de um “quarto turno” na eleição brasileira e define esse processo da seguinte maneira:

Trata-se do processo pelo qual o poder econômico-financeiro tenta enquadrar o presidente eleito, atuando para que o futuro governo contemple seus interesses e privilégios. Isso inclui extrair compromissos sobre o que será e o que não será feito.

“E ainda, talvez mais importante, inclui a pretensão de escalar o time do futuro presidente, indicando quem deve e quem não deve ser nomeado para as principais funções, sobretudo na área econômica.”.

Historicamente, tem sido evidente a influência da chamada “avenida Paulista” sobre os governantes eleitos.

O objetivo é sempre evitar inovações que, mesmo mantendo o perfil de liberdade econômica e livre mercado, alterem certos privilégios que se cristalizam ao longo dos anos no país.

Essa pressão obteve sucesso em 2002, quando Lula nomeou Palocci para a Fazenda e Meirelles BC.

Em 2014, Dilma nomeou indicado do Bradesco, o economista Joaquim Levy, para a Fazenda.

Hoje há maiores razões para que essa tendência se repita, pois, o BC tem um presidente, Roberto Campos Neto, que ficará nos primeiros dois anos do governo Lula.

A escolha final de Lula sobre quem comandará a economia será fundamental para que ocorra na economia brasileira uma mudança mais estrutural na condução da política econômica e em outras áreas, no sentido de considerar o “social” como prioridade.

Pesará a circunstância de que Lula foi candidato uma frente superampla, com expressiva participação da direita tradicional, e esta realidade política será considerada na formação do governo.

Isso não significará necessariamente ceder as conhecidas pressões do mercado.

O ministro Paulo Guedes, inegavelmente bem preparado tecnicamente, somente despertou para o social às vésperas da campanha eleitoral.

E foi um fator determinante da derrota do governo.

Atualmente, nas democracias, não há como governar sem olhar às reivindicações das massas empobrecidas.

Atende-las na medida do possível não significará “gastança” ou irresponsabilidade fiscal, mas sim dever do governo.

Veja-se o que fez Biden na pandemia, mesmo comprometendo as finanças americanas.

Na Europa há inúmeros países que também priorizaram o social, destacando-se a Alemanha que eliminou o teto de gastos para poder atender as demandas sociais.

 Um dos equívocos da direita radical é denominar esse fenômeno de esquerda, ou comunista.

Assim agindo fortalecem irracionalmente os seus oponentes.

A partir de amanhã, 7, com o comando pessoal de Lula na transição, o “quarto turno” será delineado e o país poderá antecipar os prognósticos do seu futuro próximo.

 

 

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