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Opinião: "O martírio político de João Dória no PSDB"

Postado às 05h52 | 21 Out 2022

Ney Lopes

Uma profunda reforma partidária, política e eleitoral, será a prioridade “número um” do Brasil, após a eleição.

Essa e outras reformas somente serão possíveis, através de uma Assembleia Nacional Constituinte, a ser eleita e instalada em 2023. 

Se assim não ocorrer, o que for feito se transformará em “remendo”, como no passado.

No contexto político eleitoral nacional, a maior fragilidade é dos partidos.

Eles representam verdadeira ficção, e existem em função dos repasses milionários de dinheiro público, controlados e distribuídos exclusivamente pela “mão de ferro” das cúpulas partidárias.

Os dirigentes agem como coronéis em latifúndios.

Nem a justiça pode interferir, porque a autonomia partidária garantida na Constituição de 1988 impede qualquer intervenção.

Há um exemplo recente de vítima do autoritarismo e domínio absoluto dos partidos.

É o ex-governador João Dória de SP.

Independente de gostar ou não do estilo político dele há que se reconhecer a sua fidelidade ao PSDB.

O seu grande “pecado” foi ter ideias próprias e discordar eventualmente dos caciques tucanos.

Elegeu-se prefeito de SP contra as lideranças partidárias.

Para o governo do estado, a mesma coisa.

Como era normal, ensaiou ser candidato a presidente e o veto “velado” dos “mui amigos correligionários” logo apareceu.

No governo antecipou-se ao combate a pandemia, abrindo caminhos para a vacinação, mas nem isso sensibilizou o PSDB para considerá-lo presidenciável.

Ele insistiu e encontrando resistência foi a prévia do partido e ganhou.

Incrivelmente, o tucanato tradicional não aceitou e conspirou contra.

Ele desistiu e deixou o partido;

Dória enxergou finalmente que era um rejeitado em seu próprio ninho.

Diga-se de passagem, não existirem razões externas, que justifiquem essa rejeição.

Com certeza, apenas a inveja e o temor do surgimento de uma liderança.

Dória sempre se mostrou favorável ao diálogo no partido.

A menção a “via crucis” do ex-governador João Dória é para demonstrar que o país não tem partidos políticos, mas sim amontoados e até facções.

Muitos Dórias existiram e existem no Brasil afora, todos eles com vocação e desejo de crescer na política, mas inteiramente atropelados pelos “donos dos partidos”.

A única forma de romper essa terrível "barreira" é submeter-se a cumplicidade subalterna dos "proprietários de partido" e dos governos.

Para ter sucesso é necessário agir assim e demonstrar aparente e hipócrita distancia da política.

A receita para o sucesso impõe a oferta no momento certo - por cima e por baixo do pano - do dinheiro para a campanha, direta e indiretamente, mesmo existindo o fundo eleitoral.

O "mandato" passa a ser uma mera mercadoria, com preço certo e condições de pagamento pactuadas.

Não depende de votos, vocação, experiência ou competência.

Na negociação são levados em conta apenas os "pactos pessoais e grupos" para vantagens futuras nos governos, em troca do apoio de quem alcance vitória.

O momento político nacional, ao que se sabe, está cheio desses pactos, que se propagam na velocidade da 5G.

A propósito de 5C, qualquer semelhança não é mera coincidencia.

Realmente, fato lamentável, que merece ser enfrentado com destemor e energia, por caracterizar uma questão de sobrevivência da democracia brasileira e para evitar martírios políticos semelhantes ao de João Dória, no futuro.

 

 

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