Postado às 05h39 | 01 Dez 2020
Ney Lopes
Ao que se sabe, aumentou a pressão do “mercado” contra o isolamento social e a defesa de enfrentar a pandemia com a volta ao trabalho. Bolsonaro sempre pensou assim. Apenas, “embarcou” no auxílio emergencial, por sentir que lhe trazia popularidade.
Mas com a aproximação do final do ano, a sua decisão é agradar o “mercado”, deixando de prorrogar o auxílio emergencial, mesmo que não tenha um programa substituto, apesar das evidencias de crescimento da “segunda onda”. O socorro à população expira em dezembro e também acaba o período de calamidade pública.
Ao repetir que cumprirá o teto de gastos e não defender “orçamento de guerra”, o governo segue a linha do “tzar” Paulo Guedes de adotar medidas unicamente econômicas para negociar R$ 543 bilhões em títulos, que vencem até abril. Não há decisão para a hipótese de maior crescimento pandemia e o desemprego atingir taxas recordes.
Alguns setores mais sensíveis do governo, defendem programa assistencial restrito aos inscritos no Cadastro Único e de valor mais próximo ao pago pelo Bolsa Família (R$ 190, em média). Bolsonaro rejeita a prorrogação do pagamento de R$ 300 por quatro meses (de janeiro a abril) para 25 milhões de pessoas — beneficiários do Bolsa Família e mais 12 milhões de desocupados na pandemia. Esse programa custaria R$ 15,3 bilhões, que o governo não pretende pagar.
Por incrível que pareça, mesmo sendo negacionista da pandemia, o Planalto espera queda na ocupação dos leitos hospitalares e as restrições que estados e municípios devem passar a impor, a partir desta semana, para conter a covid. Projeções da pasta indicam que a situação das UTIs só ficará crítica no fim de janeiro, caso as restrições não surtam efeito.
Há estudos de programas de microcrédito e de auxílio a micro e pequenas empresas. Sem dúvida, 2021 começará com nuvens sombrias.
Só resta saber qual será o comportamento de Bolsonaro, quando perceber, em definitivo, que o fim do socorro federal irá comprometer a sua popularidade e arquivará a sua reeleição.
Um enigma a ser decifrado.