Postado às 06h23 | 28 Dez 2022
Ney Lopes
Está praticamente concluída a formação do ministério do novo governo.
Não foi uma tarefa fácil, considerando as pressões do núcleo duro do PT, no sentido do presidente Lula não ceder em relação a cargos considerados “chaves” na estratégia do Partido.
O resumo da ópera é que o ministério escolhido não tem perfil de “frente ampla”, como defende o presidente eleito.
Existem profundas diferenças entre alguns dos escolhidos
A verdade é que o comando ministerial será “PT da gema”, sob a "vigilância" (!) permanente da deputada Gleisi Hoffmann, com apoio da primeira dama.
Na área econômica, que é fundamental, há dois corpos estranhos, quanto a afinidade com Haddad, o titular da Fazenda.
São eles o vice-presidente Alckmin e a ex-senadora Simone Tebet.
Ao longo do tempo existiram diferenças de posições a respeito de temas como Previdência, privatizações, gasto público e papel do Estado.
Sabe-se que embora competente, o estilo da senadora Tebet não é de recuar fácil.
Vejam-se a disputa dela no passado em ocasiões como a busca do comando da Mesa do Senado, nas gestões Davi Alcolumbre e Rodrigo Pacheco.
Um ponto politicamente delicado é que os planos de Haddad e Tebet convergem em relação a 2026.
Ambos pretendem disputar a presidência da República, por mais que neguem.
Qualquer descompasso entre os dois refletirá no resto do governo, gerando dificuldades.
A integração de Tebet a equipe econômica surpreendeu o próprio Haddad.
Foi resultado do monopólio defendido por Gleisi Hoffmann, de não ceder espaços vitais a antigos adversários.
A ideia inicial era que Tebet fosse para o ministério do Desenvolvimento Social, onde está o programa do Bolsa Família.
O “núcleo duro” do PT insurgiu-se contra e venceu a parada. Colocou lá o ex-governador do Piauí.
Aliás, na composição do governo percebe-se que onde há dinheiro orçamentário e poder político efetivo está sob o comando do PT.
Vejam-se os órgãos instalados no Palácio do Planalto, Ministérios da Fazenda. Justiça, Itamaraty e outros.
O futuro exigirá muito desprendimento e espírito público para Lula reger essa orquestra de estilos diferentes, que terá de mostrar-se coesa e harmoniosa para preservar a governabilidade.
O desafio começará domingo, 1, e deseja-se que o Brasil caminhe para período de estabilidade política e administrativa.