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Opinião: "Mata atlântica do RN: Patrimônio da Humanidade"

Postado às 05h21 | 29 Mai 2022

Ney Lopes - jornalista, ex-deputado federal, professor de direito constitucional da UFRN e advogado

O dia 27 de maio foi o Dia da Mata Atlântica, data escolhida em memória da famosa “Carta de São Vicente”, onde o Padre Anchieta descreveu pela primeira vez a biodiversidade das florestas tropicais do Brasil, em 1560.

Quando exerci mandatos de deputado federal, apresentei projeto de lei, no sentido de que o “Domínio da Mata Atlântica” no RN, na área total de 3.298 Km², fosse declarado “Patrimônio da Humanidade” pela UNESCO, a fim de estimular o ecoturismo, atividades econômicas e turísticas.

Sai da Câmara e ninguém deu continuidade.

A Mata Atlântica norte-rio-grandense ocupa 27 municípios, abrangendo os ecossistemas de mata, restinga e manguezal.

Cabe menção especial a mais de 2.000 hectares a beira mar (14 km de praia virgem), localizado entre Canguaretama e Baía Formosa (“Mata da Estrela”).

Compreende praias, lagoas e dunas, incluindo fauna e flora originais. Dispõe de biodiversidade extremamente variada e fontes de água ricas na sua composição mineral. Considerando situar-se ao lado da praia de “Pipa” – consagrado polo de turismo –, as suas belezas naturais únicas poderão consolidar destino turístico nobre e de valor inestimável para a humanidade.

Vislumbra-se a possibilidade de um corredor ecológico, partindo da Mata da Estrela, no município de Baía Formosa, e seguindo pelas restingas arbustivo-arbóreas do litoral até o município de Natal.

Outro corredor pode ser formado a partir de Extremoz até o município de Touros, também protegendo e recuperando o ecossistema de restinga.

Ainda no RN estão as reservas de Stoessel de Brito, em Jucurutu e outras em Acari e Taipu.

A “Mata da Estrela” foi tombada pelo Estado em 1993 e passou a integrar a “Reserva da Biosfera da Mata Atlântica Brasileira”.

O litoral potiguar apresenta áreas remanescentes de restinga e de manguezal, nos municípios de São Bento do Norte, Galinhos, Guamaré, Macau, Porto do Mangue, Areia Branca, Grossos e Tibau.

Da mesma forma, são encontrados fragmentos de mata serrana nos municípios de Martins, Portalegre, Serrinha dos Pintos, Coronel João Pessoa e Luís Gomes.

O primeiro passo seria a criação de um Parque Nacional, que tornasse a área da “Mata da Estrela” disponível para pesquisas, com atrativos científicos e turísticos.

Existem no Brasil 68 parques desse tipo. No Nordeste, o RN é uma das poucas exceções.

O Ceará tem Jericoacoara; Piauí, as nascentes do rio Parnaíba e Maranhão, os lençóis maranhenses (semelhantes às nossas dunas litorâneas).

Três sítios naturais na Mata Atlântica já obtiveram reconhecimento junto à Unesco, como patrimônios mundiais. São eles: Parque Nacional do Iguaçu, Costa do Descobrimento Reservas de Mata Atlântica e Mata Atlântica Reservas do Sudeste.

A transformação em “Patrimônio da Humanidade” do pedaço da Mata Atlântica encravada em nosso território, abriria novos horizontes para o Estado.

A “Mata Atlântica” deu origem ao nome do país pela extração do “pau brasil”.

É a nossa segunda maior floresta tropical úmida, perdendo apenas para a Floresta Amazônica.

Estima-se que abrigue cerca de 10 mil espécies de plantas, com uma infinidade de cores, formas e odores diferentes.

Há a necessidade de conservação, através do combate ao desmatamento, recuperação do que foi degradado, ampliação do número de áreas protegidas, públicas e privadas e melhoria da gestão naquelas que já existem.

O reconhecimento internacional da nossa área de Mata Atlântica permitiria o uso econômico, estimulando atividades sustentáveis e geração de renda.

A exploração mais próspera seriam pesquisas e produção de medicamentos, através do uso da matéria prima existente na biodiversidade.

O acervo natural permitiria a identificação de plantas, moléculas e conhecimento de técnicas nativas desenvolvidas há milhões de anos.

A partir daí a identificação de plantas medicinais tradicionais, para uso em saúde pública. Isso se tornaria possível, através da criação de novos produtos fitoterápicos no mercado, com grande potencial econômico e terapêutico.

Volto a lançar as sementes de ações coordenadas por forças vivas do RN, visando a declaração pela UNESCO de “patrimônio da humanidade” da nossa área nativa de mata atlântica.

Seria aberta uma larga porta para o futuro do nosso estado. (Artigo publicado emn 28.05.22 na Tribuna do Norte)

 

 

 

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