Postado às 06h50 | 24 Jul 2023
Sanchez (esquerda) e Feijó (direita) enfrentam incertezas políticas na Espanha
Ney Lopes
Realizaram-se ontem, 23, as XVI eleições gerais na Espanha desde o fim da ditadura, em 1977.
Os 37 milhões de eleitores do país elegeram 350 membros para o Parlamento.
A Espanha mergulha na incerteza política.
O cenário da eleição envolvia partidos com pretensões de chegar ao Governo, tais como, o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE que está no0 governo), Partido Popular (PP, direita), Somar (coalizão de 15 pequenos partidos progressistas, inclusive o Podemos), VOX (extrema-direita) e o Ciudadanos de centro.
Para formar um governo de coalizão são necessárias 176 cadeiras no Congresso.
O Partido Popular (PP-direita) de Alberto Nuñez Feijoó ganhou a eleição e obteve136 cadeiras no Parlamento, cuja posse será em 17 de agosto.
O bloco que sustentou o governo de Pedro Sánchez (esquerda) nos últimos quatro anos também não chega a 176 cadeiras.
Há apenas uma semana, o PP sonhava com 168 cadeiras e uma vitória esmagadora que lhe permitiria governar sozinho.
Entretanto, o ímpeto do PP em Madrid e na Andaluzia, onde os resultados de 2019 foram quase duplicados, ou na Comunidade Valenciana, não foi suficiente para compensar os maus resultados na Catalunha ou no País Basco.
O líder do PP Alberto Feijóo sofre uma grande frustração porque sabe que, apesar de ter vencido pelo mínimo em votos e de ter mais 14 lugares do que os socialistas, é perfeitamente possível que não consiga governar.
Feijó do PP teve grande desgaste por não ir ao debate dos candidatos e viu a reativação da acusação que lhe era feita de amizade nos anos 90 com o traficante Marcial Dorado.
Houve uma resistência da esquerda muito maior do que o esperado.
A surpresa e a frustração vividas pelo PP contrastavam com a alegria irreprimível do bloco governista. apesar da derrota eleitoral.
Pedro Sánchez conseguiu algo que parecia impossível há menos de dois meses, que será manter-se como primeiro ministro, mesmo derrotado.
Dependerá da coalizão que venha a formar.
A situação deixada pelas urnas no Congresso é muito complexa,
O cenário político espanhol está completamente aberto e a investidura no ar.
A Espanha tem grande influência na geopolítica global.
A cultura milenar remonta aos celtas, celtiberas, latinos, católicos romanos e até com os islâmicos.
É o segundo maior investidor no Brasil.
O país é formado por 17 comunidades autônomas, sendo as mais conhecidas: Catalunha, País Basco, Andaluzia e Galícia.
A Espanha tem uma língua oficial, o espanhol, que é o terceiro idioma mais falado no mundo, atrás apenas do inglês e do mandarim.
Existem quatro línguas co-oficiais: Galego (Originário da região da Galícia, o idioma é uma das bases do português, tendo a mesma origem latina); Basco (é o mais complexo dos idiomas e também um dos mais antigos); Catalão (Catalunha, capital de Barcelona, Valência e nas Ilhas Baleares) e Aranés ou Occitano (proveniente da língua romana, que é a terceira língua oficial da Catalunha, junto ao Espanhol Castelhano e o Catalão).
É possível afirmar que a eleição espanhola inicia possível reconfiguração no espectro político da Europa.
Este ano estão previstas eleições na Eslováquia, Holanda e Polônia.
No início do século, metade das maiores economias do continente era de centro-esquerda (Alemanha, Holanda, Itália, Reino Unido e Suécia) contra duas de centro-direita (Espanha e Polônia), uma de direita (França), uma de centro (Turquia) e uma indefinida (Rússia).
Atualmente, 21 países europeus são governados por partidos de direita.
Destes, 13 são de centro-direita e 8 estão sob o comando de siglas ligadas à direita tradicional e conservadora; centro (em 14) e centro-esquerda (em 9 países).
O sistema minoritário no continente europeu é o da esquerda tradicional.
Somente 3 das nações analisadas são governadas por partidos que se definem socialistas ou comunistas (Dinamarca, Islândia e Portugal).
Na eleição de ontem, a Espanha votou um empate entre dois blocos (esquerda e direita).
A direita ganhou, mas governará? A esquerda perdeu, mas continuará a governar?
O quadro é de incertezas.
Se não houver acordo entre os partidos, haverá uma nova eleição. como aconteceu em dezembro de 2015 e em abril de 2019.
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