Postado às 06h08 | 08 Jun 2023
Ney Lopes
É possível que em agosto próximo haja grave choque de interesses entre os Estados Unidos e os chamados países emergentes, que são aquelas nações em desenvolvimento econômico e social, com a presença de grande mercado consumidor, médio desenvolvimento humano e considerável crescimento econômico.
Esse grupo, hoje é formado por cinco países - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Denomina-se BRICS.
A sigla BRICS foi criada pelo economista Jim O'Neill, do banco Goldman Sachs, em estudo, publicado em 2001.
O BRIC se constituiu em bloco em 2009 e desde então, vários encontros periódicos entre esses países foram realizados.
Em 2011, mais um país foi agregado: a África do Sul.
O Brics não é um bloco econômico propriamente dito, mas um mecanismo internacional de atuação das principais economias emergentes do mundo atual, cujo objetivo é reduzir a dependência econômica das nações mais ricas do mundo, Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França e Itália.
Por tais razões, existe uma rivalidade acentuada, principalmente com os Estados Unidos, que lideram a economia ocidental.
Isto se acentuou, após a reunião da cúpula do BRICS realizada em Fortaleza, CE, no ano de 2014.
Na ocasião foi decidida a criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), que tem por objetivo financiar projetos de infraestrutura e de desenvolvimento sustentável em economias emergentes e em países em desenvolvimento.
Em julho de 2015, o banco foi oficialmente inaugurado, contando com um capital de 100 bilhões de dólares, hoje presidido pela ex-presidente Dilma Rousseff.
Os PIB's do BRICS, somados, equivalem a 22% do PIB mundial.
Já a população corresponde por 42% dos habitantes do planeta.
O Brics busca atuar em conjunto nos foros multilaterais, que são entidades que reúnem vários países como a ONU e a Organização Mundial do Comércio (OMC), de modo a fortalecer as posições do grupo e a democratizar a governança internacional.
Também firma acordos entre os próprios países nas áreas de agricultura, ciência e tecnologia, cultura, governança e segurança da Internet, previdência social, propriedade intelectual, saúde, turismo.
A previsão de choque de interesses entre os Estados Unidos e o BRICS poderá ocorrer a partir de agosto próximo, quando o grupo realizará na África do Sul uma grande cúpula e a proposta de criação de uma moeda única do bloco será o principal tema da agenda.
Essa moeda seria para substituir o dólar americano.
Como será a nova moeda? Como vai funcionar? E por que a iniciativa está sendo lançada agora?
O presidente Lula foi um dos primeiros a afirmar, que chegou a hora das nações da América Latina e do BRICS se afastarem do dólar para impulsionar o comércio multilateral e o desenvolvimento econômico do Sul Global.
Sem dúvida, temerárias as declarações do chefe do governo brasileiro, diante do risco dos produtores brasileiros, ao negociarem mercadorias com países que usam a moeda norte-americana, terem que enfrentar dificuldades insuperáveis pelas diferentes taxas de câmbio.
O agro-negócio seria a principal vítima.
Além do mais, os países do BRICS têm realidades muito distintas em relação a valores de Produto Interno Bruto (PIB), reservas internacionais, taxas de juros e outros.
Tais fatores poderão causar desvantagem de um país em relação ao outro que usar a moeda única.
O próprio euro ainda não tem todos os atributos necessários para competir com o dólar.
Ademais, o dólar é uma reserva de valor mundial.
A própria China tem reservas estimadas em US$ 3,1277 trilhões de dólares norte-americanos (moeda brasileira, equivale a quase R$ 16 trilhões.).
Para criar uma moeda conversível — isto é, ser aceita por todo o mundo —, é preciso, antes de tudo, ter livre movimentação de capitais.
A China, que financia e lidera o BRICS, não possui a livre movimentação de capital.
O partido Comunista Chinês usa os bancos chineses como braço parafiscal para legitimar o governo.
O que se pode antevê é que o BRICS continue a existir como instrumento de pressão econômica na concorrência internacional.
Entretanto, é ilusão ter uma moeda única, como sugeriu o presidente Lula.