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Opinião: Haddad e Lira:  hora de “cabeça fria”

Postado às 05h10 | 16 Ago 2023

Ney Lopes

Infelizmente, a democracia brasileira, no que se refere às relações entre os poderes é suscetível de abalos e crises.

Uma frase, uma palavra, gera controvérsias e reações inusitadas, todas elas em prejuízo do país.

Note-se o atual momento político com votações de projetos fundamentais para o nosso futuro – exemplo do arcabouço fiscal e reforma tributária – sendo ameaçadas e procrastinadas.

A causa foi um telefonema do ministro Haddad ao presidente da Câmara, Artur Lira, no qual, após apelos para apressar a votação das reformas, o ministro afirmou que “a Câmara está com um poder muito grande e ela não pode usar esse poder para humilhar o Senado e o Executivo”.

Com os nervos à flor da pele, as lideranças da Câmara se alvoroçaram e logo deram a entender que as votações entrariam em “banho maria”, ou que seriam feitas maiores exigências ao governo para a votação dos projetos.

A hora exige “cabeça fria” de ambos os lados e a noção de que se a crise for ampliada, quem pagará a conta é o povo brasileiro, sobretudo os mais pobres.

O prestígio ao poder legislativo – Câmara e Senado – fortalece a democracia.

Todavia, há dois extremos que precisam ser evitados.

Um é a docilidade da instituição legislativa de fazer o que o governo quer.

Outro é o estado permanente de ameaças, de parte a parte, se tal ou qual reivindicação não for aceita.

O país vive o chamado presidencialismo de coalizão, que põe em destaque as negociações entre governo e parlamentares.

A impressão é que tudo ia bem, mas de uma hora para outra uma “frase” de ministro coloca em risco as relações do governo e Câmara dos deputados.

Ninguém é criança para não entender que o “recado” de Haddad foi consentido pelo presidente Lula, que se sente pressionado.

A maturidade política recomenda, que o tom das conversas seja em busca de caminhos, os quais permitam governo e câmara exercerem as suas funções.

Há uma declaração do ministro Haddad, que precisa ser refletida.

Ele disse que o volume de recursos do Orçamento em emendas parlamentares é muito elevado.

“São R$ 40 bilhões em emendas, é 0,4% do PIB. Em que lugar do mundo você tem isso? ”,

Não é culpa de “a”, nem de “b”, pois a votação do Orçamento é coletiva.

Porém, realmente os parlamentares estão aquinhoados com verbas além dos limites necessários.

Observe-se, que atualmente aos valores altíssimos das emendas somam-se os convênios ilimitados firmados com o Executivo, todos submetidos a regra da imposição do pagamento quase imediato.

Fui parlamentar 24 anos e nunca vi isso.

Colocava verba de valor infinitamente menor, que acabava sendo contingenciada, ou seja, não paga por contenção orçamentária.

Saiu-se de um extremo para outro.

Inegavelmente, a Câmara e o Senado têm colaborado na agilidade de aprovação das reformas.

Esse ritmo não pode sofrer solução de continuidade.

Uma conversa civilizada entre o presidente Artur Lira e o ministro Haddad poderá resolver o desentendimento.

Espírito público é demonstrado nessas horas.

O Brasil espera, que isto aconteça!

 

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