Postado às 06h52 | 27 Out 2023
Ney Lopes
Na guerra atual entre Israel e a Palestina existe um único direito a ser preservado, custe o que custar, o direito à vida.
O ataque palestino é totalmente e inaceitável e merece a condenação global.
Num cenário de "polarização" e “radicalização”, o espaço de “equilíbrio” é mínimo e quase sempre incompreendido.
Entretanto, justamente nesse espaço deve ser identificada a saída para solução do conflito.
Guterres, secretário geral da ONU, mostrou na última terça feira, fatos incontestáveis, tais como: o ataque de 7 de outubro do Hamas foi uma barbaridade, que nada pode justificar; mas que esse ataque também não pode justificar a “punição coletiva” de todo um povo e “até a guerra tem regras”; que o 7 de outubro não apareceu do “vácuo”, mas há 56 anos os palestinos foram expulsos das suas terras, viram as suas casas destruídas e ficaram condenados a viver em guetos, cercados de muros e instalações militares.
Imediatamente, o governo de Israel protestou contra as palavras ditas na ONU e proibiu a concessão de vistos para funcionários das Nações Unidas.
Quer dizer: as ações humanitárias no palco da guerra se tornarão mais difíceis.
Israel exige ainda a demissão imediata do secretário-geral, que é o nono da organização e cumpre atualmente o seu segundo mandato.
A Rússia, com tudo o que o secretário-geral disse sobre a grotesca invasão da Ucrânia, nunca chegou a pedir a demissão” de Guterres.
Apenas um secretário se demitiu até hoje: Trygve Lie, por pressão da então União Soviética.
Quando o secretário-geral da ONU disse que a guerra não acontece do nada tem razão.
Injustificável o covarde ataque dos palestinos, mas isso não quer dizer, não haja causas históricas.
Israel ocupou os territórios palestinos da Faixa de Gaza e da Cisjordânia a partir de 1967, após a chamada Guerra dos Seis Dias.
O Hamas nega a existência de Israel e quer ver Israel varrido do mapa.
Israel nega a existência da Palestina e quer destruí-la.
Ao fazer declarações Guterres sabe do risco do Ocidente ficar mais isolado, pelo fato de ter pouco mais de um bilhão de habitantes, ou seja, mais de 6,5 mil bilhões de habitantes não pertencem ao mundo ocidental.
Israel sabe que está protegido no Conselho de Segurança pelo veto dos EUA.
A ONU não é uma entidade dotada de autonomia própria em matéria de decisões, mas sim o resultado da opinião de todos os seus membros, expressa na Assembleia-Geral onde estão representados todos os países do mundo, mais de 190, e no Conselho de Segurança, com 15 membros, 5 dos quais permanentes, com direito de veto.
Israel só conseguirá viver em paz com os seus vizinhos e, em particular, com os seus vizinhos palestinos, reconhecendo a existência de um Estado.
A força e o poderio econômico e bélico não serão suficientes para a sobrevivência de Israel, que é realmente um grande país e contribui com avanços científicos da humanidade.
Essa parece ser a regra humanista, perante a “tragédia humanitária" na região.
Afinal, não se deve resumir o conflito a “pró e contra”.
Os países que compõem a ONU aceitaram a prevalência do direito internacional, que condena as ações terroristas desumanas dos palestinos, mas também já rejeitou inúmeras vezes a ocupação israelita das terras dos palestinos
O grave quadro bélico exige posição “equilibrada”, de “bom senso” e “contenção”.
O ataque do Hamas não é aceitável, mas a resposta de Israel tem que ser condicionada pelo direito internacional.
O contrário ameaçará a existência do único direito a ser preservado, que é o direito à vida de judeus e palestinos.