Postado às 06h09 | 10 Abr 2022
Ney Lopes
Neste domingo, 10, realiza-se o primeiro turno das eleições presidenciais francesas.
O resultado final poderá colocar em risco a União Europeia.
Uma vitória da direitista Marine Le Pen será o fim do projeto europeu.
O seu nacionalismo exacerbado levará ao isolamento da França.
Além disso ela se declara amiga de Putin, o que terá como consequência a quebra da coesão europeia, em relação à Ucrânia.
Tal posição não será aceita pelas outras democracias, que se consideram humanistas.
O presidente Emmanuel Macron era apontado como favorito, mas caiu nas pesquisas.
Após uma queda de quase 5 pontos percentuais, Macron tem 26,5% das intenções de voto.e Le Pen, 23%, segundo pesquisa Ipsos, caracterizando empate técnico.
A razão do crescimento de Le Pen é o fato dela ter mudado totalmente o foco de sua campanha.
Deixou para segundo plano as teses racistas que defendia, como ser contrária aos imigrantes, islã e segurança.
Concentra seus discursos e projetos em questões econômicas de interesse dos franceses em geral, ligadas ao poder de compra, a maior preocupação do eleitorado, sobretudo em razão da alta da inflação.
Le Pen adota a postura de dar prioridade social e deixa de lado a pregação de redução violenta do déficit público, através de medidas contra os mais pobres e classe média, que sempre pagam sozinhos os planos econômicos sem visão humanista.
Uma das medidas de seu programa é a redução do tributo equivale ao ICMS de 20% para 5,5% sobre a energia (combustíveis, eletricidade e gás), que considera como "produtos de primeira necessidade".
Ela também prevê indexar as aposentadorias à inflação, aumentar os salários dos professores, profissionais de saúde e dos trabalhadores que ganham até três mínimos, nesse caso com a exoneração dos encargos sociais, além da isenção de impostos para jovens com até 30 anos.
O discurso de Le Pen está totalmente distanciado dos dogmas econômicos da ultradireita, embora em verdade essa seja a sua posição histórica.
Agregou ao seu programa medidas sociais, a melhoria dos serviços públicos e a defesa de um Estado protetor dos direitos do cidadão, que eram marcos fortes da esquerda e centro ideológico.
Deixa de falar em reduzir o estado e defende o estado necessário.
Por outro lado, o presidente Macron, defensor das ideias econômicas de “arrocho fiscal” carrega o ônus de decisões impopulares. Uma delas é o aumento da idade mínima para aposentadoria dos atuais 62 para 65 anos.
No início da guerra na Ucrânia, Macron ganhou vários pontos nas pesquisas.
O presidente francês já teve inúmeros contatos telefônicos com o líder russo, Vladmir Putin, desde a invasão da Ucrânia.
Mas perdeu força esse efeito inicial sobre as intenções de voto a favor de Macron.
Os franceses estão aparentemente mais preocupados com as consequências econômicas do conflito.
Até ontem, 9, véspera da eleição, quase um terço dos eleitores franceses ainda continuava indeciso.
Outra incógnita que pode alterar o resultado da votação é a taxa de abstenção, estimada em cerca de 20%.
Há quem admita surpresa fora dessa polarização.
A verdade é que será grande a responsabilidade dos franceses ao votarem.
A unidade europeia está em risco, depois das vitórias do Brexit no Reino Unido, Viktor Orbán, do governo polaco e a guerra na Ucrânia.
Caso a direita se fortaleça na França, o bloco político da União Europeia sofrerá pesadas consequências negativas, em função do isolamento de muitos países, que cuidarão apenas de si e abandonarão a política comunitária atual.
Esse nacionalismo xenófobo é condenável e Deus queira que não prevaleça, em benefício da própria paz global.