Postado às 07h05 | 17 Jan 2022
Ney Lopes
O Fórum Econômico Mundial em Davos 2022, previsto para ocorrer entre 17 e 21 de janeiro, foi adiado pelos organizadores até meados do ano, devido ao aumento de casos da variante ômicron da COVID-19.
No entanto, a partir de hoje, 17 de janeiro, será possível acompanhar várias reuniões virtuais, até o encontro presencial previsto para junho, a ser realizado no hemisfério norte.
Esta cúpula internacional reúne os principais líderes políticos, empresariais, culturais e sociais para debater, não apenas a economia, mas a pobreza mundial.
A Oxfam é uma ONG internacional que prepara documentos debatidos no Fórum.
Os cálculos da Oxfam têm por base fontes como a lista de bilionários da revista Forbes 2021, o Global Wealth Databook 2021 do Instituto de Pesquisa do Credit Suisse, que trata de dados sobre riqueza, além de dados divulgados pelo Banco Mundial.
O Estado de São Paulo divulga hoje, 17, a constatação de que que a fortuna dos 10 homens mais ricos do mundo mais que dobrou durante pandemia.
160 milhões de pessoas foram empurradas para a pobreza desde o surgimento do coronavírus, em março de 2020.
Enquanto isso, um novo bilionário surgiu a cada 26 horas.
A pequena elite mundial de 2.755 bilionários viu sua fortuna crescer mais durante a pandemia, do que nos últimos 14 anos.
No Brasil, a Oxfam calcula haver atualmente 55 bilionários, com uma riqueza total de US$ 176 bilhões.
Desde março de 2020, o país ganhou dez novos bilionários.
A riqueza deles cresceu 30% na pandemia, o equivalente a US$ 39,6 bilhões.
Os 20 maiores bilionários do país têm mais riqueza (US$ 121 bilhões) do que 128 milhões de brasileiros (cerca de 60% da população).
No país, a discussão da reforma tributária, o principal meio para a redistribuição da renda, não considera a necessidade de se reestruturar o sistema para torná-lo mais progressivo, taxando a renda e não o consumo, como acontece nos países desenvolvidos do mundo.
As discussões em andamento no Congresso Nacional brasileiro têm girado apenas em torno da simplificação da tributação sobre o consumo e a manutenção e ampliação, sem critérios, de incentivos fiscais, subsídios, juros diferenciados etc.
Dessa forma, nada mudará.
A retomada do desenvolvimento econômico só será possível com a inclusão de toda a sociedade.
Por exemplo: quem recebe incentivo fiscal tem que prestar contas à sociedade, como ocorre nos Estados Unidos.
Se isso ocorrer, o Brasil terá a oportunidade de avançar, discutindo uma reforma tributária que seja justa e solidária.
Infelizmente, no debate sucessório presidencial brasileiro, até hoje não há uma proposta concreta nesse sentido.
As desigualdades sociais têm solução, porque elas são fruto de escolhas políticas.
Do jeito que a economia global está estruturada, os mais ricos continuarão se beneficiando e lucrando, enquanto bilhões de pessoas continuarão à margem do bem estar social.
Não se trata de demonizar a riqueza.
Apenas lembrar as palavras do Papa Francisco, ao ressaltar que a "cultura do descarte" faz com que a "riqueza se concentre nas mãos de poucos, enquanto tantos ficam às margens e são percebidos como um peso, no máximo, dignos de uma esmola”.
Até o Fórum Econômico Mundial, que reúne os homens e mulheres mais ricos do mundo, preocupa-se com essa desigualdade.
Portanto, esse desafio não segue ideologias de direita, ou esquerda.
É a única forma de salvação global da dignidade humana.