Postado às 06h32 | 13 Out 2021
Ney Lopes
No dia da padroeira do Brasil e quando é concedido o Prêmio Nobel da Paz a defensores da imprensa livre, ocorreu episódio lamentável dentro do recinto do Santuário Nacional de Aparecida.
O repórter Leandro Matozo, da Globo News, foi agredido por um apoiador do presidente Bolsonaro, quando fazia a cobertura da passagem do chefe do Executivo pelo local.
Enlouquecido, como é característica dos alucinados seguidores de seitas políticas, o tresloucado agressor gratuitamente, dirigiu-se ao jornalista dentro da Igreja e aos gritos exclamou: “se eu pudesse matava vocês”.
Em seguida, agrediu o repórter no rosto o que provocou um sangramento no nariz.
Para quem tenha bom senso e deseje realmente uma democracia para o país, o episódio é emblematicamente lamentável.
O clima de radicalismo e antagonismo político cresce no país.
Nem o ambiente solene de uma Basílica, evita que fanáticos pratiquem atos de vandalismo, em nome de preferências políticas pessoais.
Não se trata de condenar ou responsabilizar o presidente Bolsonaro, por fatos dessa natureza.
Mas tais situações se repetem: o prédio do STF já foi ameaçado de depredação: ministros e parlamentares sofrem ameaças de morte; protestos ocorreram diante, diante um quartel do Exército em Brasília, com a presença do presidente, onde manifestantes pediram intervenção militar, fechamento do Congresso e do STF.
Nesse clima de insegurança política, caminha-se para a eleição geral de 2022, com dois candidatos acomodados e sentindo-se confortáveis com a radicalização que cresce.
São eles Bolsonaro e Lula.
Ambos se nutrem da radicalização desenfreada.
Nada apresentam de nova propostas.
Vivem de realimentar o passado, sem projetar o futuro.
A palavra “corrupção” é enganosamente manipulada nas declarações, como se praticá-la não fosse crime e evita-la não fosse dever do homem público e não virtude.
Somam-se às dificuldades do momento nacional, a catástrofe da pandemia, deixando rastros de destruição e exigindo no futuro, quem seja capaz e tenha equilíbrio emocional para liderar a tarefa de reconstrução nacional.
Essa reconstrução somente será possível, com a pacificação política do país, onde todos sentem a mesa e contribuam com convergências que favoreçam a nação.
Após a oportuna intervenção do ex-presidente Temer junto ao presidente Bolsonaro, em nome de uma trégua política, o quadro tem melhorado indiscutivelmente.
Todavia, não dá segurança de estabilidade.
O ocorrido no Santuário de Aparecida é o sinal do abalo da liberdade de imprensa. E sem essa liberdade não há democracia.
Se ocorrem excessos, a lei prevê sanções.
O que não pode é o fanatismo político, daqueles que desejem defender o presidente da República, chegar ao extremo de ameaçar de morte os profissionais da comunicação.
Para demonstrar efetivamente que não está comprometido com os seus aliados ensandecidos, o presidente Bolsonaro terá que dar uma declaração condenando o acontecido.
Se não fizer, no mínimo demonstrará omissão, diante dos riscos futuros que poderão enlamear e destruir a imagem do país perante o mundo.