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Opinião: "Eleição do Chile e o futuro da América Latina"

Postado às 06h27 | 20 Dez 2021

Ney Lopes

Fechadas as urnas na eleição presidencial do Chile.

Ganhou Gabriel Boric, de 35 anos, ex-líder estudantil.

Pertence ao partido da Frente Ampla, que representa a parte da sociedade chilena que quer "mudanças profundas".

Ele venceu José Antonio Kast, defensor declarado da ditadura militar de Augusto Pinochet.

No segundo turno, os dois candidatos se aliaram a outras correntes ideológicas da política nacional chilena.

O eleito recebeu o apoio de Ricardo Lagos e Michelle Bachelet, que integraram a histórica “Concertación”, que foi uma coalizão eleitoral de partidos políticos chilenos de centro-esquerda, onde confluíram socialdemocratas e democratas-cristãos.

Por tal razão, Boric passou a ser chamado de "socialdemocrata" em razão de ter o respaldo dos dois ex-presidentes chilenos, que governaram o país por quase 20 anos, após a saída do ditador Augusto Pinochet (1973-1990).

A propósito de ser acusado de comunista, Gabriel Boric declarou que o presidente será ele e não o Partido Comunista.

Uma de suas frases na campanha foi de que era “partidário de que a imprensa tem que incomodar o poder."

Tal fato aponta que ele pretende atrair outros setores do eleitorado, além da esquerda.

Boric não é apenas o presidente eleito mais jovem da história do Chile, mas também o primeiro a voltar às urnas, depois de não ter vencido na primeira disputa.

Assumirá o cargo em março de 2022.

As análises generalizadas são de que será difícil Gabriel Boric governar.

Dependerá do poder de aglutinação que ele tenha em acordos políticos, fora e dentro do Congresso.

Tanto no Senado, quanto na Câmara dos Deputados, os partidos estão praticamente com o mesmo peso, e o desempate ficará nas mãos das novas forças que emergiram, com poucas definições ideológicas, o que só aumenta a incerteza.

O Chile ainda está mergulhado no tsunami de protestos realizados em 2019 - chamado de “estallido social' (explosão social).

Segundo Carlos Peña, reitor da Universidade Diego Portales, os protestos foram resultado, em parte, do surgimento de uma nova geração "que se manifesta com crescente intensidade".

As manifestações retrataram o descontentamento com o modelo socioeconômico neoliberal, implantado pela chamada Escola de Chicago, cujo pensamento econômico defende o mercado totalmente livre, tendo sido imaginado  por Milton Friedman.

 A formação econômica do ministro Paulo Guedes do Brasil é da Escola de Chicago, na qual foi aluno e colaborou na implantação dessas ideias no Chile.

Segundo a CEPAL, a parcela de 1% mais rica da população chilena manteve 26,5% da riqueza do país em 2017, enquanto 50% das famílias de baixa renda representavam apenas 2,1% da riqueza líquida.

As estatísticas brasileiras registram maiores desigualdades sociais.

As perspectivas da governabilidade chilena se concentram na promulgação em 2022 da nova Constituição, ainda em elaboração.

Boric aprovará a continuidade do poder constituinte, o que era negado pelo seu opositor.

Com novas regras constitucionais, o Chile poderá ampliar a rede de apoios internacionais para legitimar as medidas que tomar.

O governo chileno poderá ser um espelho na América Latina, desde que se volte para soluções democráticas e reduza a influência dos nocivos radicalismos da esquerda e da direita.

Não será fácil a missão do novo presidente.

Mas é possível que isso aconteça, diante da reconstrução global após a pandemia, momento em que a maioria das nações constrói um novo modelo de Estado democrático, com lastro nas prioridades sociais e econômicas, para garantir o bem estar das nações.

 

 

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