Postado às 17h09 | 29 Set 2020
Ney Lopes
A cada dia aprofunda-se a rivalidade da China com os EEUU. O mundo já assistiu esse tipo de tensão política, entre os anos 1947 (Doutrina Truman) e 1991 (dissolução da União Soviética).
Na guerra fria que agora se inicia, os americanos terão nos chineses adversário bem mais duro do que foi a URSS. A recente abertura da Assembleia Geral da ONU mostrou o choque verbal nos discursos de Donald Trump a resposta de Xi Jinping.
No campo militar, a vantagem de Washington sobre Pequim é visível. A favor dos Estados Unidos está a sua rede de alianças, desde a NATO até os pactos de defesa com o Japão, a Austrália e Israel. A China tem procurado parceiros além-mar. Já tem uma base militar no Jibuti, também outra na Birmânia e negocia facilidades em portos do Sri Lanka e do Paquistão. Além disso, constrói um terceiro porta-aviões e planeja duplicar o seu arsenal de ogivas nucleares (hoje terá 200/300).
Na economia, a vantagem é da China. O PIB chinês irá crescer em 2020 (2,7%) e o americano cair (-4,6%). A pressão americana para compensar o risco da China tornar-se a maior econômica mundial tem se mostrado no campo das tarifas e das tecnologias (5G).
Tanto Trump, quanto Joe Biden, tentarão impor liderança nesses avanços. Não há diferença de pensamento entre os dois.
Os Estados Unidos sutilmente se aproximam do Japão (vizinhos e tradicionais adversários dos chineses) e incentivam que o país gaste mais em defesa, do que o 1% atual, exigido pela Constituição pacifista. Na mesmíssima lógica, os americanos aproveitam a desconfiança da Austrália em relação à China e às suas pretensões no Índico e no Pacífico.
Um sinal importante foram os recentes exercícios navais, que juntaram americanos, australianos e japoneses. Por outro lado, a China com o seu capitalismo de Estado, mesmo quando prevalece o capital privado, procura alianças estratégicas com países que se opõem aos Estados Unidos.
Nesta conjuntura imprevisível é o caso de indagar: a “guerra” que se inicia será “fria”, como no passado, ou “quente” como os sinais das tensões revelam no presente?