Postado às 05h02 | 02 Jul 2021
Ney Lopes
A CPI em curso do Senado deixou de lado as discussões bizantinas sobre remédios tais ou quais, tratamento precoce, compra de vacinas antes da aprovação na ANVISA e enveredou por investigações de compras públicas das vacinas contra Covid 19, pelo governo federal.
Primeiro, o deputado federal Luís Cláudio Miranda teria informado ao presidente Jair Bolsonaro em março sobre um suposto esquema ilegal, em torno da compra bilionária da vacina indiana Covaxin, pelo Ministério da Saúde.
As suspeitas de irregularidade foram levantadas pelo irmão do parlamentar, Luís Ricardo Miranda, chefe da divisão de importação do ministério.
Diante da denúncia, ”, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, decidiu suspender a negociação, intermediada pela farmacêutica brasileira “Precisa Medicamentos”.
Em seguida, Luiz Paulo Dominguetti Pereira, que se apresenta como representante da Davati Medical Supply, empresa americana que atua no ramo da saúde, denunciou que o diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias lhe pedira o pagamento de propina de US$ 1 por dose vendida (ao preço de US$ 15,50 cada) da vacina da AstraZeneca.
Roberto Dias é apontado como um indicado para o cargo pelo líder do governo Bolsonaro deputado Ricardo Barros, que já integrou a base aliada de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), antes de apoiar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
É uma figura importante do Centrão.
O “fato novo” é que depondo ontem na CPI, Dominghetti afirmou que o deputado Luis Miranda, autor de denúncias sobre irregularidades no contrato para compra da vacina indiana Covaxin, estava envolvido nas negociações de imunizantes oferecidos pela Davati Medical Supply (AstraZeneca), com interesses comerciais.
O depoente apresentou um áudio, que incrimina o deputado Miranda, como tentativa de interferência na negociação da vacina.
O ambiente da CPI ficou tenso, de lado a lado.
No final, a testemunha Dominghetti por pouco não foi preso, mas teve o celular apreendido.
Os fatos mostram, em princípio, que o áudio contra o deputado denunciante do presidente Bolsonaro poderá alterar o rumo das suspeitas.
Curiosamente, os oposicionistas na CPI passaram a defender o deputado Miranda e acusar de “armação” do governo a prova apresentada por Luiz Paulo Dominguetti Pereira, chamando-o de “bolsonarista”.
Não se trata da defesa, ou acusação, de Bolsonaro, ou do deputado Luiz Miranda.
O que se deseja é que a CPI tenha tranquilidade e equilíbrio para apurar a autenticidade do áudio, através de prova técnica.
O que não pode é "carimbar" ou antecipar julgamentos, contra quem quer que seja.
Esse comportamento desacredita a investigação e demonstra que os trabalhos são orientados por “dois pesos e duas medidas”.
Afinal, está exposta a credibilidade do Senado Federal.