Postado às 10h00 | 27 Abr 2020
Ney Lopes
A história relata, que o naufrágio do “Titanic” começou com grito de alarme de um marinheiro, não levado a sério. Minutos depois, o navio se choca com gigantesco bloco de gelo e a tragédia consumou-se. Nos últimos dias, a cena política brasileira está recheada de “gritos de alerta”, sem que surja no horizonte qualquer indício de uma “parada para refletir”, em busca de união nacional.
Por tais razões, começamos hoje, mais uma semana no “fio da navalha”, certamente com o governo se comportando como oposição a si próprio. O ponto mais sensível será a decisão do Ministro Celso Mello, do STF, no pedido de investigação da PGR sobre as declarações do ex-ministro Moro. Pela sua tradição de juiz “garantista dos direitos fundamentais”, é provável que o relator da matéria autorize o início da investigação, considerando a gravidade das denúncias. Iniciada a investigação criminal sabe-se apenas o seu início, mas não se conhece como terminará.
Tudo passa a ser possível, inclusive início do “impeachment”, caso fatos contundentes sejam revelados ao longo da instrução do inquérito, levando ao ajuizamento de denúncia contra o Presidente e pedido de autorização à Câmara, com a consequência imediata, se atendido, do afastamento do Chefe da Nação. A análise realista do atual quadro político-eleitoral brasileiro mostra que Bolsonaro se convenceu de que a pandemia irá atingir a sua popularidade.
Com as pesquisas assegurando-lhe cerca de 30% do eleitorado, ele sabe que não manterá essa fatia, sobretudo após o desfalque de Moro Por isso, faz movimento para alimentar a ala “xiita” do bolsonarismo, protegendo-se nesse núcleo fanático. Por outro lado, à revelia de Guedes, lança o “Pró Brasil” para agradar os nordestinos e o empresariado, como sempre cioso de “obras públicas”.
A intenção clara é amealhar votos e simpatias na reeleição. Para quem observa a política nacional, o comportamento do Presidente é uma típica “manobra de risco”. Diria até, do “tudo ou nada”.
Sobretudo porque, a essa altura, ele pode perder até o apoio militar, que começa a convencer-se de que com Mourão seria melhor.