Postado às 10h29 | 06 Mai 2020
A acusação é sempre um infortúnio enquanto não verificada pela prova. RUI BARBOSA BARBOSA, R., Novos Discursos e Confissões.
Ney Lopes
Ontem, 5, após o primeiro momento de divulgação do depoimento do ex-ministro Moro opinei que o texto revelava uma insatisfação pessoal dele com o presidente. Realmente o ex-ministro disse claramente, que não acusava o presidente de crime. Porém, refletindo sobre o depoimento, chego à conclusão de que Bolsonaro, por enquanto, não tem razões para inquietação.
Mas, as declarações de Moro assemelham-se ao “fio de Ariadne” e tudo pode ainda acontecer. Na mitologia grega, a bela Ariadne apaixonada pelo herói Teseu, quis ajudá-lo a lutar que o aprisionava em um labirinto. Ariadne deu ao amado uma espada e um novelo de linha. O novelo, após desenrolado, serviria como indicador do caminho de volta, após Teseu livrar-se do labirinto. Foi dessa forma que o “fio de Ariadne” se transformou em símbolo de raciocínio lógico para resolução de problemas complexos.
Pois bem! O alívio do presidente restringe-se a inviabilização para o início imediato do impeachment. Com a apuração na PF, o Congresso “desistiu” de iniciar o impeachment, por parecer leviandade assim agir, antes da conclusão das investigações. Neste contexto, o depoimento de Moro pode ser considerado “o fio de Ariadne” para orientar a ação policial e judicial futura. Não se pode negar a prerrogativa do presidente em sugerir mudanças de cargos nos seus ministérios.
Entretanto, o “fio de Ariadne” será o indicador que poderá responder à pergunta: por qual razão o presidente pediu a mudança da PF, no Rio de Janeiro e em Pernambuco? No RJ não há investigação contra seus familiares na PF, mas há na Polícia Civil e na Justiça.
Além disso, outras acusações (mesmo não provadas) pairam no ar. Em Pernambuco, a PF fez diligencias na casa do senador Fernando Bezerra, seu líder no Senado. Com a experiência de juiz, Moro não acusou antes da conclusão do inquérito, mas deixou o caminho aberto para a investigação. Logo, conclui-se que o presidente somente poderá respirar aliviado, quando o inquérito terminar e ficar demonstrada a “falta de provas”. Poderão surgir fatos concretos, como também não acontecer mais nada.
É cedo para absolver e para condenar também!