Postado às 10h21 | 04 Mai 2020
Ney Lopes
Quem parece “também” ter “chegado ao limite” é o Brasil e não o Presidente ao repetir ontem, 3, essa mesma expressão, na rampa do Palácio do Planalto, diante de um aglomerado ensandecido de adeptos. A intenção de Bolsonaro foi denegrir o STF, o ex-ministro Moro e o Congresso Nacional, esbravejando que não admitirá “interferências” e denunciando golpe contra seu governo, no estilo de Hugo Chávez, em tempos passados na Venezuela. O Presidente foi mais adiante e disse ter apoio das Forças Armadas.
Graças a Deus, não há sinais de que isso ocorra.
Não é a primeira vez de tais comportamentos. Repetem-se nas últimas semanas, cada vez com maior intensidade. Para onde caminhamos? Num período de pandemia, com milhares de pessoas hospitalizadas, ou a beira da morte, o Presidente todos os dias gera crise.
Logo mais, quando sair do Palácio Alvorada, novamente Bolsonaro poderá realimentar esse clima com novas provocações. Por outro lado, o “caldeirão” ferve pela medida que foi tomada pelo próprio governo, quando a PGR requereu a instalação de investigação para apurar declarações de Moro contra a Presidente. Certamente, a intenção dessa providencia foi colocar “dúvida” nas acusações contra Bolsonaro, evitando que o Congresso iniciasse o processo de impeachment. Com o inquérito em marcha, a tendência é considerar que não cabe “afastamento”, enquanto tudo não for esclarecido.
Mas, “o feitiço pode virar contra o feiticeiro”. Em relação a interferência em inquérito na PF há dois aspectos a serem considerados: se houve “ato concreto” de interferência, atrapalhando a sequência da investigação. Com essa prova material, caracteriza-se a obstrução de justiça.
Se ocorreram tentativas de “ajudar” possíveis acusados, estaria configurada a advocacia administrativa. Tudo dependerá de prova idônea. A verdade é que, em qualquer hipótese, o inquérito na PF transforma-se em mais um ingrediente, que conduz o Brasil à exaustão política, agravada pela imprevisibilidade de Bolsonaro, que anunciou ontem, 3, ter atingido os “seus limites”.
Só resta esperar que, mais uma vez, Deus seja brasileiro!