Postado às 07h37 | 20 Abr 2020
O retrato fiel da crise político-institucional em marcha
Ney Lopes – editor do blog
Em plena catástrofe da “pandemia”, o Brasil atravessa momento difícil, após o Presidente da República ter participado ontem, 19, no DF, de manifestação nitidamente política, na qual era defendido abertamente o “fechamento do Congresso e do STF”, além de pedidos de volta do famigerado AI 5, da época de 1964.
Instalou –se definitivamente uma “crise político-institucional”, implantada e de responsabilidade do próprio Presidente, usando as ruas de Brasília para falar em cima de uma camioneta, como se estivesse em comício, usando às suas costas o cenário indevido do prédio sede do Exército Brasileiro.
Observe-se, que se instalou não apenas “crise político-institucional”, mas também “crise sanitária”, que põe em risco a saúde coletiva, quando o Presidente, sem qualquer base cientifica, desafia toda a humanidade e recomenda que o “isolamento social” seja suspenso abruptamente, por vontade "política" dele, para "ferir politicamente" goverrnadores e prefeitos.
Claro, todos os brasileiros desejam a suspensão do isolamento, o mais rápido possível.
A vida humana e a economia padecem com esse procedimento, que poderá ter consequencias drásticas.
Todavia, a causa do isolamento é o vírus e não os políticos e dirigentes.
Para suspender - aspiração generalizada do povo - é necessário respeitar a dignidade humana, definida na Constituição e dizer como, onde, de que forma, quais estudos, ou análises cientificas aconselham essa media.
Não agir dessa maneira é pregar o genocídio. Não há outra palavra.
Percebe-se que o Presidente Bolsonaro está “ilhado”, “isolado” e obedece unicamente aos seus três filhos.
A prova maior é que antes de ir às ruas não procurou seus ministros mais próximos, nem se acompanhou de nenhum deles. Nada falou sobre orientação técnica do seu novo ministro da saúde, que parece omitir-se para "agarrar-se ao cargo", que pretendia ocupar desde a posse do Presidente.
O que se viu foi o Presidente sair pelos fundos do palácio Alvorada e encontrar-se com seus “três filhos e conselheiros”. De lá partiu para uma caminhada nitidamente antidemocrática, que se realizava em Brasília.
O que alega o Presidente Bolsonaro para os seus gestos tresloucados?
Alega fatos políticos e judiciários.
“Políticos” seriam as posições da Câmara e do Senado na apreciação de propostas por ele enviadas, submetidas ao rito da Constituição.
O Presidente não tolera quem “brilha ou é mais inteligente que ele”. Vejam-se os martírios de Manetta e de Moro.
Também não aceita que o Congresso deixe de aprovar o que ele encaminha como propostas. Tem que ser o que ele quer, porque “é somente ele quem defende o Brasil”.
Os demais, todos sem exceção, são párias, oportunistas, corruptos da velha política e devem ser banidos.
Enquanto verbera esses "slogans" reune-se com os ex-deputados Roberto Jefferson, Kasab e Waldemar da Costa Neto (????), além de outros, em busca de apoio e solidariedade.
O Presidente também alega fatos “judiciários”, que se resumem em sua total e absoluta irresignação pelas decisões do STF (ou outra instancia), por não renderem obediencia à sua vontade soberana,
Não se pode negar ao Presidente o direito de ter suas opiniões e defende-las. Porém, terá que ser fiel ao rito constitucional.
Rodrigo Maia, seu desafeto há anos na política do Rio de Janeiro, não manda sozinho. Ele está no final de mandato na presidência de um colegiado com mais de 500 integrantes. Alcolumbre a mesma coisa, no Senado.
Cabe ao Governo ir ao Congresso, argumentar, mostrar números, alegar suas razões, enfrentar os argumentos dos congressistas, sem ameaça de fechamento do Poder Legislativo.
O mesmo raciocínio se aplica às discordâncias em relação ao judiciário, quando o remédio é o recurso, já assegurado em lei.
Ao invés de agir como um estadista, o Presidente agride e acusa todos de ações políticas!!!!
Pergunta-se: e ele nas ruas, em dia de domingo, em tom de campanha eleitoral, seria ou não atitude meramente política?
Se tal forma de agir não for política, não se sabe mais o que será política!
Afinal, essa é postura de um Chefe de Estado, por mais que tenha razões de protestar?
Em resumo: muito delicada a crise “político institucional” instalada no país, sob a responsabilidade direta do Presidente Jair Bolsonaro. Por mais que se possa ter restrições em relação a atos de congressistas e juízes, o comportamento presidencial é indefensável.
Absolutamente indefensável para quem preze e defenda a Democracia.
Hoje a confiança do país é na clarivdencia e lucidez democrática dos poderes constitucionais (Legislativo e Judiciário) e das Forças Armadas, pelo conceito elevado que desfrutam na Nação.
Uma observação final: Deus queira que não entre ”em tramitação no Congresso" o pedido de impeachment contra Bolsonaro.
Não é hora, ainda.
Tudo que Bolsonaro e seus filhos querem é o início desse processo de impeachment, para jogarem "labaredas" e tocarem fogo no país, transformando em absolutamente imprevisível o futuro do nosso querido Brasil.
A crise pode – e deve – ser resolvida pelas ações legais e responsáveis, daqueles que, exercendo o poder, possam estabelecer limites às ações estapafúrdias do Executivo, evitando as consequências danosas.
Sobretudo para garantir a saúde dos brasileiros, que está ameaçada pelo desvario do anuncio de medidas, que poderiam até serem tomadas (a suspensão parcial do isolamento), mas carecem de fundamento cientifico sólido e não de simples anuncio presidencial, em cima de um carro de propaganda política no DF, em plena tarde de domingo.
O Presidente, que gosta tanto de "recados" e "simbolismos", esqueceu que estava com camisa vermelha, o simbolo do PT. Com isso, confirma indiretamente, que os "extremos se encontram", ou seja, o fanatismo e o radicalismo da direita e esquerda confluem para busca do poder totalitário e absoluto, embora em posições opostas. Aliás, a história mostra isto.
Repita-se: não é hora. ainda, de "impeachment".
É hora de reagir e resistir, pelas vias constitucionais e legais, e evitar que o Presidente da República alcance os seus objetivos, agora nitidamente desenhados e do conhecimento da opinião pública.
Só não enxerga quem não queira.
Diante de tantos desatinos pode-se relembrar afirmação de Henry Kissinger, secretário de estado americano já falecido, referindo-se a crises passadas:
"Estamos passando por uma mudança de época” e o desafio histórico para os líderes de hoje é gerir a crise e ao mesmo tempo construir o futuro. Seu fracasso nessa tarefa pode incendiar o mundo".
Deus proteja o Brasil desse incendio iminente!
No final da manhã desta segunda, 20, o presidente ao sair do Palácio Alvorada proclamou que não agirá fora da Democracia e repreendeu um "aliado" que pedia o fechamento do Congresso.
Entretanto, ao afirmar que era a própria "Constituição" e pregar a "liberdade", agrediu a Rede Globo de Televisão e a Folha, cujos repórteres foram reeprendidos por ele, ao esbravejar que tais órgãos de imprensa não deviam nem estar ali.
Onde fica o respeito à liberdade de imprensa?
As declarações do Presidente, segundo analistas políticos de Brasília, foram resultado da pressão dos seus ministros militares, que desaprovaram a sua fala de ontem, 19, quando ele tacitamente consentiu, em apoiar claramente tendencias totalitárias de fechamento do Congresso e do STF.
Quem cala consente.
E Bolsonaro sempre calou, ao participar de manifestações contra as instituições, diante de "gritos" e "faixas", propondo metódos ditatoriais.
Se discordava, por que não protestou e proibiu tais comportamentos?
A lucidez das Forças Armadas, na reunião de ontem à noite no Palácio Alvorada, impõs a mudança do discurso presidencial de altíssimo risco.
Melhor assim!
Vamos ver se ele terá recaídas.
Deus queira que não.