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Opinião do blog: "América Latina: ser ou não ser"

Postado às 07h04 | 30 Jun 2020

Ney Lopes

A triste previsão se tornou realidade. A América Latina é o  epicentro da covid 19. A região registra cerca de 54% dos casos ativos no mundo.

O maior foco, infelizmente, está na América do Sul, com maior concentração no Brasil, em segundo lugar no pódio de contágios, atrás apenas dos Estados Unidos e na frente da Rússia.

Trata-se de uma crise sem precedentes. Os prognósticos são pessimistas.

Já se confirmam quedas no consumo e aumento do desemprego, com taxas de 14% e 15% mensais. Isso significa mais pobreza, mais endividamento e mais desigualdade. A previsão central é queda do PIB de 8% a 10% neste ano, e uma recuperação só a partir do segundo semestre de 2021. O grande dilema é que a região terá que crescer mais do que caiu: se caiu 9%, com uma recuperação de 9% não vai chegar ao mesmo nível.

Terá que crescer muito mais. Esse desafio demandará 3 a 4 anos, para retornar aos níveis anteriores de renda per capita.

O chileno Eric Parrado, economista-chefe do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), aconselha que “é preciso fazer um esforço grande em infraestruturas físicas e digitais, educação e saúde”. Ele chama atenção para a descontinuidade administrativa, que é tradição na América Latina. Vem um Governo para fazer reforma e o seguinte faz a contrarreforma da reforma.

Resultado: os problemas são “chutados” para frente. E a América Latina já era e continuará sendo, a região mais desigual do mundo. Em torno de 80% dos latino-americanos de baixa renda sofreram pelo menos uma perda de emprego de um familiar próximo do início da pandemia, frente aos 20% dos de renda alta.

A grande lição é que vamos sair mais pobres da pandemia, mais endividados e com maior problema de distribuição de renda. A única solução serão as reformas, porém elas não poderão ter a ótica exclusivamente econômica. Terão que ser “inclusivas”, reduzindo desigualdades, para evitar que as multidões (como no Chile) continuem em protestos nas ruas.

Ser ou não ser é o drama hamletiano dos latino-americanos!

 

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