Postado às 06h06 | 03 Abr 2023
Ney Lopes
A ação do político na atualidade é extremamente complexa.
Por mais competente que seja, ou bem-intencionado, coloca-se sempre diante do dilema: ou tem coragem para implantar reformas necessárias, ou atende a voz do povo, muitas vezes manipulada por líderes, que só interessam ganhar a próxima eleição.
Atualmente, a França é uma amostra viva desse dilema.
O governo ou avança com uma reforma previdenciária imprescindível, ou cede e opta pela falsa paz social, que retire o povo das ruas, em protestos diários.
Como sempre a virtude está no meio.
Os impasses nascem de posições rígidas, de parte a parte, que não admitem recuos
O preço do Estado eficiente é elevado.
As políticas racionais geram sacrifícios, quando implantadas. Há, portanto, a necessidade de uma conscientização coletiva.
Essas dificuldades e incompreensões crescem geometricamente na França, que é um país de tradição revolucionária.
Mesmo antes da histórica Revolução Francesa de 1789, em plena Idade Média (1358), e num contexto de crise provocada pela Guerra dos Cem Anos, peste negra e maus anos agrícolas, os camponeses revoltaram-se contra a sua situação de fome e miséria.
Séculos mais tarde, surge a chamada “Fronda”, que foi uma série de guerras civis na França entre 1648 e 1653, concomitantemente à Guerra Franco-Espanhola (1635-1659)
A revolução francesa de 1789 foi provocada por maus anos agrícolas, que provocaram fome; a asfixia económica do Estado, com os impostos que não cobriam as despesas; e a sensação de injustiça, tanto das classes populares, sobrecarregadas de impostos, quanto da burguesia, sem representatividade política.
Essa revolução, que de início procurou a justiça social, radicalizou-se com Robespierre, e entrou num período intolerante e sanguinário.
Em pleno século XXI, a França está novamente a ferro e fogo, desde o início do ano,
Contesta-se sobretudo o aumento da idade da aposentadoria na reforma previdenciária, que seria de 62 anos.
Parte da esquerda reclama que o buraco da segurança social deve ser tapado com a receita de mais impostos sobre as fortunas e empresas.
Macron está pois perante um dilema.
Nem o governo inflexível, nem a voz do povo nas ruas em badernas, chegarão a bom termo.
A única solução será abertura ao diálogo de ambas as partes, rejeitando o tudo ou nada, e não procurando derrotar o adversário.
O vitorioso terá que ser a França.
Se essa alternativa prevalecer, o dilema de Macorn será mais fácil de resolver.
Ao contrário, até o caos já ameaça a França, o que terá reflexo em todo o mundo.