Postado às 07h16 | 19 Jul 2022
Ney Lopes
Davi no Salmo 52, do livro de Salmos da Bíblia, está escrito: “Sua língua trama destruição; é como navalha afiada, cheia de engano”.
Ditados populares se referem aos riscos de malignidade da língua e recomendam prudência e ponderação nas opiniões. Por exemplo: “o peixe morre pela boca e o homem pela língua”; “Quem fala demais, acaba dando bom dia a cavalo”; “em boca fechada não entra mosquito”.
Como defensor intransigente do estado de direito, não posso calar, diante da convocação ontem, 18, em Brasília, de embaixadores de vários países, quando foi atingida a já tão abalada imagem do Brasil no resto do mundo.
Por tal motivo, introduzi os salmos bíblicos no início do texto.
Independentemente de ser a favor ou contra Bolsonaro, foi injustificável o presidente, em monólogo, usar a “língua” para acusar, sem nenhuma prova material, a existência de fraude em nosso sistema eleitoral, “antes” da realização das eleições.
Todos os argumentos “repetidos”, conforme demonstrado no site do TSE, já foram esclarecidos pela Corte eleitoral em outras ocasiões e também pelos próprios magistrados.
As reações contrárias ao posicionamento começaram pelos aliados do próprio presidente, que consideram “pegar mal” esse tipo de discurso, sem “pé nem cabeça”.
Numa hora em que Bolsonaro precisa investir para crescer, de um lado anuncia medidas do auxílio Brasil, e de outro infringe o artigo 6°, da lei 1.079/50, ao “opor-se diretamente e por fatos ao livre exercício do Poder Judiciário, ou obstar, por meios violentos, ao efeito dos seus atos, mandados ou sentenças”.
O que está em jogo é a estabilidade das instituições democráticas, que põe em risco a realização das eleições de outubro.
Dois erros graves ocorreram, com a reunião de ontem no Palácio do Planalto.
Primeiro, urna eletrônica e processo eleitoral integram a agenda interna do país.
Não se justifica que representações estrangeiras participem dos debates, sob pena de lesão a soberania nacional.
Segundo, cada embaixador comunicará ao seu governo o tema abordado no encontro, o que irá colaborar para fragilizar, ainda mais, a nossa política externa.
Por todos os ângulos em que se analise, independente de posição política, Bolsonaro deu “um tiro no próprio pé”. Só terá o que perder. Nada a ganhar.
Sabe-se que a sua ala “fanática”, “entorpecida”, sem raciocínio lógico, dirá exatamente o contrário.
Aplaudirá o presidente, chamando-o de destemido e corajoso.
Entretanto, ocorre justamente o contrário.
Confúcio já ensinou, que saber o que é correto e não o fazer, demonstra falta de coragem.
A posição correta do presidente da República é a defesa da nação, sem exibição de possíveis fragilidades, perante o mundo.
Portanto, é falta de coragem cívica propagar previamente, sem evidencias e provas consistente, a vulnerabilidade eleitoral do Brasil, que nunca foi questionada.
Isso significa “abrir a porta” para levantar dúvidas sobre o resultado das urnas, caso não seja aquele desejado pelo Planalto.
De tudo que já ocorreu nos últimos tempos na política nacional, o mais grave foi o episódio da reunião de ontem, com embaixadores estrangeiros.
Infelizmente, de agora por diante, nada será surpresa.
Cabe a cada brasileiro consciente, patriota, com amor ao país, entrincheirar-se na defesa do respeito às instituições nacionais e as liberdades.
Jamais, em nenhuma circunstância, nem diante de qualquer justificativa, podemos trocar a democracia pela força e o poder absoluto de ditadores.
O autor do texto pessoalmente sofreu na pele o que é a injustiça em regime autoritário, sem direito a recurso à justiça.
Por isso, o caminho é reconhecer a legitimidade da Justiça, em todos os seus níveis e graus, como única maneira da transição eleitoral de 2022 ocorrer em Paz.
Deus salve o Brasil!