Postado às 06h08 | 04 Out 2021
Ney Lopes
A Folha publica relatório preocupante sobre o aumento progressivo da miséria no Brasil.
Com menos de um ano para as eleições gerais, o desafio é buscar caminhos e alternativas, que garantam estabilidade social e econômica na pós pandemia.
Entre as prioridades estarão políticas focalizadas na primeira infância, na educação e no ensino técnico de jovens, preparando-os para o mercado de trabalho.
No Brasil, a despesa per capita com crianças e adolescentes é seis vezes menor do que a com idosos atendidos pela Previdência e outros programas, segundo a Cepal.
Além do país ter recorde de 27,1% que não trabalham ou estudam, aqueles que buscam ocupação, mesmo os treinados em programas especiais, acabam inutilizados em uma economia que não cresce.
Nos últimos dez anos, a renda do trabalho despencou 26,2%. Com evolução menor na escolaridade, os 50% mais ricos mantiveram seus rendimentos inalterados ou ganharam mais.
Os mais pobres, pais ou filhos de outros pobres, continuam dependentes de recursos de programas sociais ou presos ao mercado de trabalho informal.
O Brasil tem atualmente mais pessoas na miséria do que em 2011 e em relação à antes da pandemia.
Após longo período de queda sustentada, a taxa de miseráveis voltou a subir e eles são hoje 27,4 milhões (13% da população) vivendo com menos de R$ 261 ao mês, ou R$ 8,70 ao dia.
No campo macroeconômico, o país tem a maior dívida bruta em relação ao PIB (82. 7%).
De acordo o Banco Mundial, a evasão escolar no Brasil segue muito elevada e 38% das crianças e jovens até a quinta série estão abaixo de níveis de conhecimento.
Diante dessa realidade catastrófica, o Brasil mantém privilégios que terão de ser corrigidos.
Vejam-se alguns deles.
Todos os anos, o governo abre mão de mais de R$ 300 bilhões (cerca de nove vezes o valor do Bolsa Família) em benefícios tributários e financeiros favorecendo empresas ou parcelas mais ricas da sociedade. Isso se dá por meio de incentivos à Zona Franca de Manaus e regimes tributários diferenciados à empresas individuais.
Especialistas defendem a revisão desses benefícios para haver mais espaço no orçamento de programas sociais focalizados e aprimoramento no treinamento de jovens para o mercado de trabalho.
Só um corte linear nessas isenções quase dobraria o valor do Bolsa Família.
Enquanto isso, 66 dos maiores devedores brasileiros de impostos, cujas dívidas somam R$ 16,6 bilhões, mantêm offshores com milhões depositados em paraísos fiscais, segundo documentos divulgados pelo grupo de jornalistas “Pandorra Papers”.
Certamente, muitos deles recebem subsídios e incentivos do governo.
Pelo que se percebe há solução.
O que falta é firme decisão política de reduzir as desigualdades sociais, que põem em risco permanente a própria segurança institucional.