Postado às 16h22 | 11 Mar 2024
Ney Lopes
Alegra-me ter prestado há 20 anos, relevante serviço ao Brasil, quando o país se assemelhava a Argentina de hoje.
Ocorria processo de explosão inflacionária, que chegou a 6.800%, no início de 1990. Ao longo de 15 anos, entre 1980 e 1994, a inflação no Brasil esteve fora do controle. Isso significava, que os produtos custavam 68 vezes o preço de um ano antes.
Nessa crise, presidi no Congresso Nacional a Comissão Mista de senadores e deputados, que implantou o Plano Real, o mais bem-sucedido plano econômico brasileiro. Debateu-se intensamente. Ao final aprovou-se a Medida Provisória n° 542/94, assinada por Itamar Franco, mas somente aprovada pelo Congresso Nacional dois meses depois. A MP permitiu a estabilização econômica do país e abriu portas para o crescimento. Convidei à época, o empresário potiguar Álvaro Alberto para exposição na Comissão Mista. Ele contribuiu nas discussões e recebeu aplausos gerais.
A ideia do Plano Real foi dos economistas André Lara Resende e Pérsio Arida, da PUC do RJ, no documento apelidado de “Larida”. Depois, aperfeiçoaram a proposta, os economistas como Gustavo Franco, Pedro Malan e Edmar Bacha. Enfrentei muitas dificuldades, em razão de violentas pressões de áreas tacanhas da sociedade civil e do PT, que se opunham radicalmente a mudança. Prevalecia o individualismo e não o interesse nacional. Para Lula, então candidato a presidente, o Plano real era “maracutaia”. Todo o petismo votou contra.
A história mostra que o Plano Real deu certo. Luís Inácio Lula da Silva o manteve integralmente e ainda hoje contribui para a estabilidade econômica do país, tão alardeada pelo seu governo. Um dos pontos mais polêmicos foi a criação da Unidade Real de Valor (URV), que definiu as regras de conversão do cruzeiro, eliminou a indexação da economia à correção monetária mensal e equiparou a moeda nacional ao dólar americano. O objetivo era conter a hiperinflação.
Durante a campanha de FHC, em setembro de 1994, ocorreu polêmico episódio jornalístico, envolvendo o Plano Real, o Ministro da Fazenda, Rubens Ricúpero e o jornalista Carlos Monforte da Rede Globo. Enquanto aguardava entrar no ar, o Ministro Ricúpero fez “confidencias” captadas por antenas parabólicas. Entre outras coisas afirmou que usava os indicadores favoráveis do Plano Real em favor de FHC. Disse ainda: “o que é bom a gente mostra, o ruim esconde”. A pressão da imprensa levou o Presidente Itamar a substituí-lo por Ciro Gomes.
Do ponto de vista político, o sucesso do Plano Real referendou FHC para a disputa presidencial de 1994. A popularidade de FHC foi tão grande, que ele se elegeu no primeiro turno, com 55% dos votos. O gratificante para mim foi como representante de um pequeno estado do Nordeste ter contribuído na condução da proposta do Plano Real no Congresso Nacional, até a sua aprovação final. Dever cumprido!