Postado às 06h16 | 28 Jul 2022
Ney Lopes
A divulgação de uma Carta em Defesa da Democracia se tornou um dos principais fatos políticos da semana no Brasil, por representar ampla união de ideologias políticas distantes umas das outras.
Porém, todas concordantes no apoio a democracia e ao sistema eleitoral brasileiro.
Já constam mais de 100 mil assinaturas.
O documento tem adesão de políticos de direita e esquerda e até mesmo pessoas que já estiveram ligadas ao governo de Bolsonaro.
A Carta para quem tenha bom senso nada tem de ofensivo.
É apenas a defesa de um ponto de vista jurídico.
O presidente Bolsonaro, que não anda bem das “pernas eleitoralmente”, perde a oportunidade de assinar a Carta.
Seria normal que ressalvasse seu apoio à democracia e a sua tese de maior vigilância no voto eletrônico, porém disposto a aceitar a decisão final da justiça, como é recomendação inflexível das democracias..
Essa atitude não agradaria sua "base fanatizada", defensora do "nós contra eles" e com chamas nas mãos para aumentar a fogueira das divisões políticas.
Mas, certamente poderia colocá-lo em posição favorável, sobretudo no eleitorado indeciso que hoje representa 30% no país.
O presidente como sempre agiu pelo impulso.
Desfechou a ironia de “não precisamos de nenhuma cartinha para falar que defendemos a democracia”.
Afinal, o manifesto reafirma valores democráticos e seria oportunidade para Bolsonaro ratificar esses valores, esclarecendo certas dubiedades deixadas pelas suas declarações, na maioria das vezes intempestivas.
Está escrito na Carta: “Sob o manto da Constituição Federal de 1988, prestes a completar seu 34ºaniversário, passamos por eleições livres e periódicas, nas quais o debate político sobre os projetos para o país sempre foi democrático, cabendo a decisão final à soberania popular...Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de seus representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição".
Que mal haveria em Bolsonaro concordar com esses princípios, já que se declara um democrata?
Infelizmente, além de perder a oportunidade para um comportamento de tolerância política, o presidente Bolsonaro prenuncia que, se eleito, a sua posição não será favorável ao diálogo amplo nacional, inclusive com seus atuais adversários.
Ele se dispõe a continuar hermeticamente fechado em seus dogmas, que atraem adeptos, mas realmente podem pôr em risco a democracia, antes ou depois da eleição.